BLOG QUE TRATA DE PSICANÁLISE

Um blog que diz de Freud, Lacan, Psicanálise, subjetividade, condição humana e outros assuntos afins, quase sempre muito interessantes...

sábado, 14 de dezembro de 2013

EVENTO: PALESTRA TRATAMENTO PSICANALITICO: AFINAL QUEM E POR QUE PROCURA? OU: DE ONDE VEM OS PACIENTES ATUALMENTE?

PALESTRA NO ILPC....



Logo no inicio de minha tese de doutorado, como pode-se notar pelo que escrevi mais abaixo, descrevi uma situação que me instigou a pensar as dificuldades que o psicanalista enfrenta em sua tarefa diaria, no cotidiano da clínica. Defendi a tese em 2011, mas ainda me interrogo sobre alguns pontos, como por exemplo:
• Quem e por que procura um analista atualmente?
• De onde vêm os (im)pacientes?
• Por que permanecem?
• O que colhem de um processo como esse?...
• Quantos nos procuram após perceber os efeitos de uma análise?
• Por que muitos preferem o dizer ao remédio?
• A análise serve para todos? Sempre?
• O que muda na vida de uma pessoa após uma análise?

Tentarei responder a essas e outras questões no PENSAR PSICANÁLISE, evento que ocorrerá no próximo dia 16 de Dezembro, (20 horas), no Fran’s Café da Vila Mariana (Rua Francisco Cruz, 583 – a duas quadras do metrô Vila Mariana). As vagas são limitadas e as inscrições devem ser feitas pelo e-mail: psicontemporanea@terra.com.br.

“Deve-se destacar também que foi um trabalho em nível de iniciação científica, pensado e estruturado para esse fim e que, a despeito do número limitado a apenas vinte entrevistados, resultou em um panorama curioso que iremos agora, sinteticamente, descrever. Essa amostra de psicanalistas que – em diversos momentos do percurso da prática clínica e também da formação – aceitaram ser entrevistados, veio a ressaltar certos aspectos que, além de instigarem nosso interesse, também serviram como mote para novos questionamentos acerca de nosso tema de pesquisa, naquele momento ainda razoavelmente indefinido; um aspecto que as respostas elencadas a seguir ajudaram a esclarecer.
O primeiro ponto que destacamos de imediato refere-se a uma pergunta genérica e introdutória presente nas entrevistas, e que incidia sobre as dificuldades que o entrevistado enfrenta no cotidiano do trabalho clínico. Essa questão redundou em respostas que, de maneira geral, referiam-se ao que poderíamos chamar de pacientes dos dias atuais, que portam alguns traços característicos: restringem a expectativa ao alívio do sintoma, fazendo uso da análise apenas como um paliativo instantâneo; mostram-se imediatistas; pouco se implicam e não entram em análise, além de interromperem inesperadamente o tratamento, deixando muitas vezes o psicanalista sem chance de demovê-los dessa decisão. Nesse sentido, considerando-se que esse tema abriu as entrevistas, podemos perceber alguma correspondência com os dois textos anteriormente citados, e que falam sobre um paciente que aparentemente não mais “se encaixaria” num perfil mínimo esperado ou adequado ao que um tratamento psicanalítico preconiza em termos de envolvimento e implicação necessários ao processo.
O segundo ponto tangencia o cotidiano da clínica, em particular na direção do tratamento. Os entrevistados apontaram alguns tópicos específicos, como, por exemplo, a solidão de uma prática que exige muito do psicanalista, visto que não pode falar livre e abertamente de qualquer tema com o paciente, restando alguns esparsos contatos entre pares, momentos nos quais estaria livre de um semblante coerente a cada paciente. Foi citada ainda a ausência de uma técnica fixa que supostamente facilitasse, por exemplo, o manejo transferencial, quase sempre um aspecto delicado e que obriga o psicanalista a recomeçar de cada caso, demandando atenção e cuidados permanentes. Percebemos nesse ponto que esse aspecto da solidão, e mesmo da concentração quase permanente durante o tratamento, podem significar dois fatores tendencialmente indutores de tensão crônica.
Adicione-se a isso também outro elemento citado, e que diz respeito à dificuldade de estabelecimento no mercado das profissões-“psi”, do granjear respeito que, entre outras coisas, facilitaria a indicação para novos pacientes, especialmente no começo da prática clínica – um início de percurso quase sempre muito claudicante e sem reconhecimento do trabalho, e dependente de um sistema não-institucional, organizacional ou corporativo claramente definido. Nas respostas dos psicanalistas mais experimentados, nota-se uma mudança nesse quesito, pois aparentemente já ultrapassaram esse período e suas falas tangenciaram outros aspectos como a falta de tempo livre para o lazer ou para a convivência familiar e círculo de amigos. Algumas respostas também tocaram em problemáticas referentes a aspectos mais narcísicos do analista, racionalmente pouco admissíveis, mas que por vezes dão mostras de sua existência ao próprio analista durante os tratamentos, questão delicada e quase sempre de difícil abordagem.
Outra temática abordada pelos entrevistadores refere-se a uma possível crise da psicanálise. Essa abordagem se deu por vários ângulos: um deles foi inquirir diretamente o entrevistado, perguntando se essa crise o afetava efetivamente; outro foi perguntar sobre a relevância do tema e qual a posição do psicanalista frente a ele; outro, ainda, foram indagações mais genéricas, checando as percepções e reflexões do entrevistado acerca desse assunto. Essa crise, como já evidenciamos anteriormente, foi um tema bastante presente nos dois artigos anteriormente citados e suscitou algumas respostas que nem sempre coincidiam, mas que, por outro lado, pareciam dizer da prática específica do entrevistado. Parte deles discordava quanto ao termo, pois a Psicanálise como um tratamento específico estaria cada vez mais acessível e popular, chegando a mais pessoas e aumentando o campo da oferta, enquanto outros diziam que, pensada a partir de um rareamento de procura por parte dos pacientes, a crise da Psicanálise estaria restrita apenas aos psicanalistas que não investiam suficientemente na formação, ou mesmo que dela pouco cuidariam, acomodando-se na poltrona e esquecendo o necessário engajamento no tripé exaustivamente citado no meio psicanalítico. Alguns entrevistados pensavam a palavra crise como um significante e, nesse caso, a Psicanálise sempre estaria em crise, pois é justamente com isso que essa prática lida. Outros apontavam a crise como um fenômeno relativamente sazonal, mas pouco preocupante, e perceptível desde a invenção da doutrina por Freud. Interessante perceber que, ao menos nesse aspecto de demanda na realidade brasileira, a crise aparentemente não tem a mesma magnitude quando comparada aos dois textos anteriormente citados.
A relação com os membros do grupo familiar foi outro campo temático que algumas perguntas tocaram. Obteve-se um conjunto variado de respostas, que afirmavam, de um lado, um suporte satisfatório, ou ainda um apoio incondicional e até mesmo orgulhoso da família. De outro lado, surgiam indícios críticos de que a escolha pela profissão parecia não ter sido a melhor, beirando o exótico e o desconhecido, diferente de outras escolhas mais tradicionais e supostamente mais estáveis ou reconhecidas socialmente. Alguns entrevistados também citaram cobrança da família quanto ao pouco tempo destinado às atividades sociais, em grupo ou circunscrita à própria família nuclear. O acúmulo de trabalho e estudo que parece aumentar progressivamente em paralelo ao tempo de percurso da formação do psicanalista acaba por se tornar, como em outras atividades, um adversário da família, o que corrobora o que notamos no primeiro texto, de Pimentel e Vieira (2005), sobre os indicativos de stress e de falta de tempo para outras atividades que não trabalho e envolvimento com a teoria.
Por fim, a questão que encerrava nossa pesquisa piloto levantou possíveis recomendações a quem se dispusesse a seguir essa profissão. De forma geral, o rol de respostas incluiu: a análise pessoal como parte indispensável, saber de antemão que estudar muito é parte crucial da formação, procurar uma instituição séria para os passos iniciais, ler muito e não apenas leituras ligadas à psicanálise, além de não se preocupar com o dinheiro em primeiro lugar. Uma resposta destoou significativamente das demais, mas vale a pena aqui ser citada justamente pela singularidade e rigor: sugeriu-se que o interessado procurasse um analista para saber o que poderia estar por trás da decisão de seguir tal caminho.
Considerando que as vinte entrevistas foram efetuadas por estudantes de Psicologia e por isso ainda relativamente inexperientes na condução de uma entrevista, mesmo assim a empreitada redundou em um quadro geral do processo bastante satisfatório. Um dado pitoresco que deve ser citado foi a repercussão do trabalho, no final do projeto, não apenas entre os alunos mas principalmente entre alguns entrevistados que ressaltavam como a pesquisa os fez pensar em coisas sobre as quais não refletiam corriqueiramente.”
 
  2011, mas ainda me interrogo sobre alguns pontos, como por exemplo:
• Quem e por que procura um analista atualmente?
• De onde vêm os (im)pacientes?
• Por que permanecem?
• O que colhem de um processo como esse?
• Quantos nos procuram após perceber os efeitos de uma análise?
• Por que muitos preferem o dizer ao remédio?
• A análise serve para todos? Sempre?
• O que muda na vida de uma pessoa após uma análise?
Tentarei responder a essas e outras questões no PENSAR PSICANÁLISE, evento que ocorrerá no próximo dia 16 de Dezembro, (20 horas), no Fran’s Café da Vila Mariana (Rua Francisco Alves, 538 – a duas quadras do metrô Vila Mariana). As vagas são limitadas e as inscrições devem ser feitas pelo e-mail: psicontemporanea@terra.com.br.

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 tese em 2011, mas ainda me interrogo sobre alguns pontos, como por exemplo:
• Quem e por que procura um analista atualmente?
• De onde vêm os (im)pacientes?
• Por que permanecem?
• O que colhem de um processo como esse?
• Quantos nos procuram após perceber os efeitos de uma análise?
• Por que muitos preferem o dizer ao remédio?
• A análise serve para todos? Sempre?
• O que muda na vida de uma pessoa após uma análise?

Tentarei responder a essas e outras questões no PENSAR PSICANÁLISE, evento que ocorrerá no próximo dia 16 de Dezembro, (20 horas), no Fran’s Café da Vila Mariana (Rua Francisco Alves, 538 – a duas quadras do metrô Vila Mariana). As vagas são limitadas e as inscrições devem ser feitas pelo e-mail: psicontemporanea@terra.com.br.

“Deve-se destacar também que foi um trabalho em nível de iniciação científica, pensado e estruturado para esse fim e que, a despeito do número limitado a apenas vinte entrevistados, resultou em um panorama curioso que iremos agora, sinteticamente, descrever. Essa amostra de psicanalistas que – em diversos momentos do percurso da prática clínica e também da formação – aceitaram ser entrevistados, veio a ressaltar certos aspectos que, além de instigarem nosso interesse, também serviram como mote para novos questionamentos acerca de nosso tema de pesquisa, naquele momento ainda razoavelmente indefinido; um aspecto que as respostas elencadas a seguir ajudaram a esclarecer.
O primeiro ponto que destacamos de imediato refere-se a uma pergunta genérica e introdutória presente nas entrevistas, e que incidia sobre as dificuldades que o entrevistado enfrenta no cotidiano do trabalho clínico. Essa questão redundou em respostas que, de maneira geral, referiam-se ao que poderíamos chamar de pacientes dos dias atuais, que portam alguns traços característicos: restringem a expectativa ao alívio do sintoma, fazendo uso da análise apenas como um paliativo instantâneo; mostram-se imediatistas; pouco se implicam e não entram em análise, além de interromperem inesperadamente o tratamento, deixando muitas vezes o psicanalista sem chance de demovê-los dessa decisão. Nesse sentido, considerando-se que esse tema abriu as entrevistas, podemos perceber alguma correspondência com os dois textos anteriormente citados, e que falam sobre um paciente que aparentemente não mais “se encaixaria” num perfil mínimo esperado ou adequado ao que um tratamento psicanalítico preconiza em termos de envolvimento e implicação necessários ao processo.
O segundo ponto tangencia o cotidiano da clínica, em particular na direção do tratamento. Os entrevistados apontaram alguns tópicos específicos, como, por exemplo, a solidão de uma prática que exige muito do psicanalista, visto que não pode falar livre e abertamente de qualquer tema com o paciente, restando alguns esparsos contatos entre pares, momentos nos quais estaria livre de um semblante coerente a cada paciente. Foi citada ainda a ausência de uma técnica fixa que supostamente facilitasse, por exemplo, o manejo transferencial, quase sempre um aspecto delicado e que obriga o psicanalista a recomeçar de cada caso, demandando atenção e cuidados permanentes. Percebemos nesse ponto que esse aspecto da solidão, e mesmo da concentração quase permanente durante o tratamento, podem significar dois fatores tendencialmente indutores de tensão crônica.
Adicione-se a isso também outro elemento citado, e que diz respeito à dificuldade de estabelecimento no mercado das profissões-“psi”, do granjear respeito que, entre outras coisas, facilitaria a indicação para novos pacientes, especialmente no começo da prática clínica – um início de percurso quase sempre muito claudicante e sem reconhecimento do trabalho, e dependente de um sistema não-institucional, organizacional ou corporativo claramente definido. Nas respostas dos psicanalistas mais experimentados, nota-se uma mudança nesse quesito, pois aparentemente já ultrapassaram esse período e suas falas tangenciaram outros aspectos como a falta de tempo livre para o lazer ou para a convivência familiar e círculo de amigos. Algumas respostas também tocaram em problemáticas referentes a aspectos mais narcísicos do analista, racionalmente pouco admissíveis, mas que por vezes dão mostras de sua existência ao próprio analista durante os tratamentos, questão delicada e quase sempre de difícil abordagem.
Outra temática abordada pelos entrevistadores refere-se a uma possível crise da psicanálise. Essa abordagem se deu por vários ângulos: um deles foi inquirir diretamente o entrevistado, perguntando se essa crise o afetava efetivamente; outro foi perguntar sobre a relevância do tema e qual a posição do psicanalista frente a ele; outro, ainda, foram indagações mais genéricas, checando as percepções e reflexões do entrevistado acerca desse assunto. Essa crise, como já evidenciamos anteriormente, foi um tema bastante presente nos dois artigos anteriormente citados e suscitou algumas respostas que nem sempre coincidiam, mas que, por outro lado, pareciam dizer da prática específica do entrevistado. Parte deles discordava quanto ao termo, pois a Psicanálise como um tratamento específico estaria cada vez mais acessível e popular, chegando a mais pessoas e aumentando o campo da oferta, enquanto outros diziam que, pensada a partir de um rareamento de procura por parte dos pacientes, a crise da Psicanálise estaria restrita apenas aos psicanalistas que não investiam suficientemente na formação, ou mesmo que dela pouco cuidariam, acomodando-se na poltrona e esquecendo o necessário engajamento no tripé exaustivamente citado no meio psicanalítico. Alguns entrevistados pensavam a palavra crise como um significante e, nesse caso, a Psicanálise sempre estaria em crise, pois é justamente com isso que essa prática lida. Outros apontavam a crise como um fenômeno relativamente sazonal, mas pouco preocupante, e perceptível desde a invenção da doutrina por Freud. Interessante perceber que, ao menos nesse aspecto de demanda na realidade brasileira, a crise aparentemente não tem a mesma magnitude quando comparada aos dois textos anteriormente citados.
A relação com os membros do grupo familiar foi outro campo temático que algumas perguntas tocaram. Obteve-se um conjunto variado de respostas, que afirmavam, de um lado, um suporte satisfatório, ou ainda um apoio incondicional e até mesmo orgulhoso da família. De outro lado, surgiam indícios críticos de que a escolha pela profissão parecia não ter sido a melhor, beirando o exótico e o desconhecido, diferente de outras escolhas mais tradicionais e supostamente mais estáveis ou reconhecidas socialmente. Alguns entrevistados também citaram cobrança da família quanto ao pouco tempo destinado às atividades sociais, em grupo ou circunscrita à própria família nuclear. O acúmulo de trabalho e estudo que parece aumentar progressivamente em paralelo ao tempo de percurso da formação do psicanalista acaba por se tornar, como em outras atividades, um adversário da família, o que corrobora o que notamos no primeiro texto, de Pimentel e Vieira (2005), sobre os indicativos de stress e de falta de tempo para outras atividades que não trabalho e envolvimento com a teoria.
Por fim, a questão que encerrava nossa pesquisa piloto levantou possíveis recomendações a quem se dispusesse a seguir essa profissão. De forma geral, o rol de respostas incluiu: a análise pessoal como parte indispensável, saber de antemão que estudar muito é parte crucial da formação, procurar uma instituição séria para os passos iniciais, ler muito e não apenas leituras ligadas à psicanálise, além de não se preocupar com o dinheiro em primeiro lugar. Uma resposta destoou significativamente das demais, mas vale a pena aqui ser citada justamente pela singularidade e rigor: sugeriu-se que o interessado procurasse um analista para saber o que poderia estar por trás da decisão de seguir tal caminho.
Considerando que as vinte entrevistas foram efetuadas por estudantes de Psicologia e por isso ainda relativamente inexperientes na condução de uma entrevista, mesmo assim a empreitada redundou em um quadro geral do processo bastante satisfatório. Um dado pitoresco que deve ser citado foi a repercussão do trabalho, no final do projeto, não apenas entre os alunos mas principalmente entre alguns entrevistados que ressaltavam como a pesquisa os fez pensar em coisas sobre as quais não refletiam corriqueiramente.”