BLOG QUE TRATA DE PSICANÁLISE

Um blog que diz de Freud, Lacan, Psicanálise, subjetividade, condição humana e outros assuntos afins, quase sempre muito interessantes...

sábado, 14 de dezembro de 2013

EVENTO: PALESTRA TRATAMENTO PSICANALITICO: AFINAL QUEM E POR QUE PROCURA? OU: DE ONDE VEM OS PACIENTES ATUALMENTE?

PALESTRA NO ILPC....



Logo no inicio de minha tese de doutorado, como pode-se notar pelo que escrevi mais abaixo, descrevi uma situação que me instigou a pensar as dificuldades que o psicanalista enfrenta em sua tarefa diaria, no cotidiano da clínica. Defendi a tese em 2011, mas ainda me interrogo sobre alguns pontos, como por exemplo:
• Quem e por que procura um analista atualmente?
• De onde vêm os (im)pacientes?
• Por que permanecem?
• O que colhem de um processo como esse?...
• Quantos nos procuram após perceber os efeitos de uma análise?
• Por que muitos preferem o dizer ao remédio?
• A análise serve para todos? Sempre?
• O que muda na vida de uma pessoa após uma análise?

Tentarei responder a essas e outras questões no PENSAR PSICANÁLISE, evento que ocorrerá no próximo dia 16 de Dezembro, (20 horas), no Fran’s Café da Vila Mariana (Rua Francisco Cruz, 583 – a duas quadras do metrô Vila Mariana). As vagas são limitadas e as inscrições devem ser feitas pelo e-mail: psicontemporanea@terra.com.br.

“Deve-se destacar também que foi um trabalho em nível de iniciação científica, pensado e estruturado para esse fim e que, a despeito do número limitado a apenas vinte entrevistados, resultou em um panorama curioso que iremos agora, sinteticamente, descrever. Essa amostra de psicanalistas que – em diversos momentos do percurso da prática clínica e também da formação – aceitaram ser entrevistados, veio a ressaltar certos aspectos que, além de instigarem nosso interesse, também serviram como mote para novos questionamentos acerca de nosso tema de pesquisa, naquele momento ainda razoavelmente indefinido; um aspecto que as respostas elencadas a seguir ajudaram a esclarecer.
O primeiro ponto que destacamos de imediato refere-se a uma pergunta genérica e introdutória presente nas entrevistas, e que incidia sobre as dificuldades que o entrevistado enfrenta no cotidiano do trabalho clínico. Essa questão redundou em respostas que, de maneira geral, referiam-se ao que poderíamos chamar de pacientes dos dias atuais, que portam alguns traços característicos: restringem a expectativa ao alívio do sintoma, fazendo uso da análise apenas como um paliativo instantâneo; mostram-se imediatistas; pouco se implicam e não entram em análise, além de interromperem inesperadamente o tratamento, deixando muitas vezes o psicanalista sem chance de demovê-los dessa decisão. Nesse sentido, considerando-se que esse tema abriu as entrevistas, podemos perceber alguma correspondência com os dois textos anteriormente citados, e que falam sobre um paciente que aparentemente não mais “se encaixaria” num perfil mínimo esperado ou adequado ao que um tratamento psicanalítico preconiza em termos de envolvimento e implicação necessários ao processo.
O segundo ponto tangencia o cotidiano da clínica, em particular na direção do tratamento. Os entrevistados apontaram alguns tópicos específicos, como, por exemplo, a solidão de uma prática que exige muito do psicanalista, visto que não pode falar livre e abertamente de qualquer tema com o paciente, restando alguns esparsos contatos entre pares, momentos nos quais estaria livre de um semblante coerente a cada paciente. Foi citada ainda a ausência de uma técnica fixa que supostamente facilitasse, por exemplo, o manejo transferencial, quase sempre um aspecto delicado e que obriga o psicanalista a recomeçar de cada caso, demandando atenção e cuidados permanentes. Percebemos nesse ponto que esse aspecto da solidão, e mesmo da concentração quase permanente durante o tratamento, podem significar dois fatores tendencialmente indutores de tensão crônica.
Adicione-se a isso também outro elemento citado, e que diz respeito à dificuldade de estabelecimento no mercado das profissões-“psi”, do granjear respeito que, entre outras coisas, facilitaria a indicação para novos pacientes, especialmente no começo da prática clínica – um início de percurso quase sempre muito claudicante e sem reconhecimento do trabalho, e dependente de um sistema não-institucional, organizacional ou corporativo claramente definido. Nas respostas dos psicanalistas mais experimentados, nota-se uma mudança nesse quesito, pois aparentemente já ultrapassaram esse período e suas falas tangenciaram outros aspectos como a falta de tempo livre para o lazer ou para a convivência familiar e círculo de amigos. Algumas respostas também tocaram em problemáticas referentes a aspectos mais narcísicos do analista, racionalmente pouco admissíveis, mas que por vezes dão mostras de sua existência ao próprio analista durante os tratamentos, questão delicada e quase sempre de difícil abordagem.
Outra temática abordada pelos entrevistadores refere-se a uma possível crise da psicanálise. Essa abordagem se deu por vários ângulos: um deles foi inquirir diretamente o entrevistado, perguntando se essa crise o afetava efetivamente; outro foi perguntar sobre a relevância do tema e qual a posição do psicanalista frente a ele; outro, ainda, foram indagações mais genéricas, checando as percepções e reflexões do entrevistado acerca desse assunto. Essa crise, como já evidenciamos anteriormente, foi um tema bastante presente nos dois artigos anteriormente citados e suscitou algumas respostas que nem sempre coincidiam, mas que, por outro lado, pareciam dizer da prática específica do entrevistado. Parte deles discordava quanto ao termo, pois a Psicanálise como um tratamento específico estaria cada vez mais acessível e popular, chegando a mais pessoas e aumentando o campo da oferta, enquanto outros diziam que, pensada a partir de um rareamento de procura por parte dos pacientes, a crise da Psicanálise estaria restrita apenas aos psicanalistas que não investiam suficientemente na formação, ou mesmo que dela pouco cuidariam, acomodando-se na poltrona e esquecendo o necessário engajamento no tripé exaustivamente citado no meio psicanalítico. Alguns entrevistados pensavam a palavra crise como um significante e, nesse caso, a Psicanálise sempre estaria em crise, pois é justamente com isso que essa prática lida. Outros apontavam a crise como um fenômeno relativamente sazonal, mas pouco preocupante, e perceptível desde a invenção da doutrina por Freud. Interessante perceber que, ao menos nesse aspecto de demanda na realidade brasileira, a crise aparentemente não tem a mesma magnitude quando comparada aos dois textos anteriormente citados.
A relação com os membros do grupo familiar foi outro campo temático que algumas perguntas tocaram. Obteve-se um conjunto variado de respostas, que afirmavam, de um lado, um suporte satisfatório, ou ainda um apoio incondicional e até mesmo orgulhoso da família. De outro lado, surgiam indícios críticos de que a escolha pela profissão parecia não ter sido a melhor, beirando o exótico e o desconhecido, diferente de outras escolhas mais tradicionais e supostamente mais estáveis ou reconhecidas socialmente. Alguns entrevistados também citaram cobrança da família quanto ao pouco tempo destinado às atividades sociais, em grupo ou circunscrita à própria família nuclear. O acúmulo de trabalho e estudo que parece aumentar progressivamente em paralelo ao tempo de percurso da formação do psicanalista acaba por se tornar, como em outras atividades, um adversário da família, o que corrobora o que notamos no primeiro texto, de Pimentel e Vieira (2005), sobre os indicativos de stress e de falta de tempo para outras atividades que não trabalho e envolvimento com a teoria.
Por fim, a questão que encerrava nossa pesquisa piloto levantou possíveis recomendações a quem se dispusesse a seguir essa profissão. De forma geral, o rol de respostas incluiu: a análise pessoal como parte indispensável, saber de antemão que estudar muito é parte crucial da formação, procurar uma instituição séria para os passos iniciais, ler muito e não apenas leituras ligadas à psicanálise, além de não se preocupar com o dinheiro em primeiro lugar. Uma resposta destoou significativamente das demais, mas vale a pena aqui ser citada justamente pela singularidade e rigor: sugeriu-se que o interessado procurasse um analista para saber o que poderia estar por trás da decisão de seguir tal caminho.
Considerando que as vinte entrevistas foram efetuadas por estudantes de Psicologia e por isso ainda relativamente inexperientes na condução de uma entrevista, mesmo assim a empreitada redundou em um quadro geral do processo bastante satisfatório. Um dado pitoresco que deve ser citado foi a repercussão do trabalho, no final do projeto, não apenas entre os alunos mas principalmente entre alguns entrevistados que ressaltavam como a pesquisa os fez pensar em coisas sobre as quais não refletiam corriqueiramente.”
 
  2011, mas ainda me interrogo sobre alguns pontos, como por exemplo:
• Quem e por que procura um analista atualmente?
• De onde vêm os (im)pacientes?
• Por que permanecem?
• O que colhem de um processo como esse?
• Quantos nos procuram após perceber os efeitos de uma análise?
• Por que muitos preferem o dizer ao remédio?
• A análise serve para todos? Sempre?
• O que muda na vida de uma pessoa após uma análise?
Tentarei responder a essas e outras questões no PENSAR PSICANÁLISE, evento que ocorrerá no próximo dia 16 de Dezembro, (20 horas), no Fran’s Café da Vila Mariana (Rua Francisco Alves, 538 – a duas quadras do metrô Vila Mariana). As vagas são limitadas e as inscrições devem ser feitas pelo e-mail: psicontemporanea@terra.com.br.

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 tese em 2011, mas ainda me interrogo sobre alguns pontos, como por exemplo:
• Quem e por que procura um analista atualmente?
• De onde vêm os (im)pacientes?
• Por que permanecem?
• O que colhem de um processo como esse?
• Quantos nos procuram após perceber os efeitos de uma análise?
• Por que muitos preferem o dizer ao remédio?
• A análise serve para todos? Sempre?
• O que muda na vida de uma pessoa após uma análise?

Tentarei responder a essas e outras questões no PENSAR PSICANÁLISE, evento que ocorrerá no próximo dia 16 de Dezembro, (20 horas), no Fran’s Café da Vila Mariana (Rua Francisco Alves, 538 – a duas quadras do metrô Vila Mariana). As vagas são limitadas e as inscrições devem ser feitas pelo e-mail: psicontemporanea@terra.com.br.

“Deve-se destacar também que foi um trabalho em nível de iniciação científica, pensado e estruturado para esse fim e que, a despeito do número limitado a apenas vinte entrevistados, resultou em um panorama curioso que iremos agora, sinteticamente, descrever. Essa amostra de psicanalistas que – em diversos momentos do percurso da prática clínica e também da formação – aceitaram ser entrevistados, veio a ressaltar certos aspectos que, além de instigarem nosso interesse, também serviram como mote para novos questionamentos acerca de nosso tema de pesquisa, naquele momento ainda razoavelmente indefinido; um aspecto que as respostas elencadas a seguir ajudaram a esclarecer.
O primeiro ponto que destacamos de imediato refere-se a uma pergunta genérica e introdutória presente nas entrevistas, e que incidia sobre as dificuldades que o entrevistado enfrenta no cotidiano do trabalho clínico. Essa questão redundou em respostas que, de maneira geral, referiam-se ao que poderíamos chamar de pacientes dos dias atuais, que portam alguns traços característicos: restringem a expectativa ao alívio do sintoma, fazendo uso da análise apenas como um paliativo instantâneo; mostram-se imediatistas; pouco se implicam e não entram em análise, além de interromperem inesperadamente o tratamento, deixando muitas vezes o psicanalista sem chance de demovê-los dessa decisão. Nesse sentido, considerando-se que esse tema abriu as entrevistas, podemos perceber alguma correspondência com os dois textos anteriormente citados, e que falam sobre um paciente que aparentemente não mais “se encaixaria” num perfil mínimo esperado ou adequado ao que um tratamento psicanalítico preconiza em termos de envolvimento e implicação necessários ao processo.
O segundo ponto tangencia o cotidiano da clínica, em particular na direção do tratamento. Os entrevistados apontaram alguns tópicos específicos, como, por exemplo, a solidão de uma prática que exige muito do psicanalista, visto que não pode falar livre e abertamente de qualquer tema com o paciente, restando alguns esparsos contatos entre pares, momentos nos quais estaria livre de um semblante coerente a cada paciente. Foi citada ainda a ausência de uma técnica fixa que supostamente facilitasse, por exemplo, o manejo transferencial, quase sempre um aspecto delicado e que obriga o psicanalista a recomeçar de cada caso, demandando atenção e cuidados permanentes. Percebemos nesse ponto que esse aspecto da solidão, e mesmo da concentração quase permanente durante o tratamento, podem significar dois fatores tendencialmente indutores de tensão crônica.
Adicione-se a isso também outro elemento citado, e que diz respeito à dificuldade de estabelecimento no mercado das profissões-“psi”, do granjear respeito que, entre outras coisas, facilitaria a indicação para novos pacientes, especialmente no começo da prática clínica – um início de percurso quase sempre muito claudicante e sem reconhecimento do trabalho, e dependente de um sistema não-institucional, organizacional ou corporativo claramente definido. Nas respostas dos psicanalistas mais experimentados, nota-se uma mudança nesse quesito, pois aparentemente já ultrapassaram esse período e suas falas tangenciaram outros aspectos como a falta de tempo livre para o lazer ou para a convivência familiar e círculo de amigos. Algumas respostas também tocaram em problemáticas referentes a aspectos mais narcísicos do analista, racionalmente pouco admissíveis, mas que por vezes dão mostras de sua existência ao próprio analista durante os tratamentos, questão delicada e quase sempre de difícil abordagem.
Outra temática abordada pelos entrevistadores refere-se a uma possível crise da psicanálise. Essa abordagem se deu por vários ângulos: um deles foi inquirir diretamente o entrevistado, perguntando se essa crise o afetava efetivamente; outro foi perguntar sobre a relevância do tema e qual a posição do psicanalista frente a ele; outro, ainda, foram indagações mais genéricas, checando as percepções e reflexões do entrevistado acerca desse assunto. Essa crise, como já evidenciamos anteriormente, foi um tema bastante presente nos dois artigos anteriormente citados e suscitou algumas respostas que nem sempre coincidiam, mas que, por outro lado, pareciam dizer da prática específica do entrevistado. Parte deles discordava quanto ao termo, pois a Psicanálise como um tratamento específico estaria cada vez mais acessível e popular, chegando a mais pessoas e aumentando o campo da oferta, enquanto outros diziam que, pensada a partir de um rareamento de procura por parte dos pacientes, a crise da Psicanálise estaria restrita apenas aos psicanalistas que não investiam suficientemente na formação, ou mesmo que dela pouco cuidariam, acomodando-se na poltrona e esquecendo o necessário engajamento no tripé exaustivamente citado no meio psicanalítico. Alguns entrevistados pensavam a palavra crise como um significante e, nesse caso, a Psicanálise sempre estaria em crise, pois é justamente com isso que essa prática lida. Outros apontavam a crise como um fenômeno relativamente sazonal, mas pouco preocupante, e perceptível desde a invenção da doutrina por Freud. Interessante perceber que, ao menos nesse aspecto de demanda na realidade brasileira, a crise aparentemente não tem a mesma magnitude quando comparada aos dois textos anteriormente citados.
A relação com os membros do grupo familiar foi outro campo temático que algumas perguntas tocaram. Obteve-se um conjunto variado de respostas, que afirmavam, de um lado, um suporte satisfatório, ou ainda um apoio incondicional e até mesmo orgulhoso da família. De outro lado, surgiam indícios críticos de que a escolha pela profissão parecia não ter sido a melhor, beirando o exótico e o desconhecido, diferente de outras escolhas mais tradicionais e supostamente mais estáveis ou reconhecidas socialmente. Alguns entrevistados também citaram cobrança da família quanto ao pouco tempo destinado às atividades sociais, em grupo ou circunscrita à própria família nuclear. O acúmulo de trabalho e estudo que parece aumentar progressivamente em paralelo ao tempo de percurso da formação do psicanalista acaba por se tornar, como em outras atividades, um adversário da família, o que corrobora o que notamos no primeiro texto, de Pimentel e Vieira (2005), sobre os indicativos de stress e de falta de tempo para outras atividades que não trabalho e envolvimento com a teoria.
Por fim, a questão que encerrava nossa pesquisa piloto levantou possíveis recomendações a quem se dispusesse a seguir essa profissão. De forma geral, o rol de respostas incluiu: a análise pessoal como parte indispensável, saber de antemão que estudar muito é parte crucial da formação, procurar uma instituição séria para os passos iniciais, ler muito e não apenas leituras ligadas à psicanálise, além de não se preocupar com o dinheiro em primeiro lugar. Uma resposta destoou significativamente das demais, mas vale a pena aqui ser citada justamente pela singularidade e rigor: sugeriu-se que o interessado procurasse um analista para saber o que poderia estar por trás da decisão de seguir tal caminho.
Considerando que as vinte entrevistas foram efetuadas por estudantes de Psicologia e por isso ainda relativamente inexperientes na condução de uma entrevista, mesmo assim a empreitada redundou em um quadro geral do processo bastante satisfatório. Um dado pitoresco que deve ser citado foi a repercussão do trabalho, no final do projeto, não apenas entre os alunos mas principalmente entre alguns entrevistados que ressaltavam como a pesquisa os fez pensar em coisas sobre as quais não refletiam corriqueiramente.”
 
 
 

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

EVENTO: CONFERENCIA NA UMESP: AFINAL, O QUE É E COMO TRABALHA UM PSICANALISTA LACANIANO?


CONFERENCIA  METODISTA  30-NOVEMBRO-2013

AFINAL, O QUE É E COMO TRABALHA UM PSICANALISTA LACANIANO?

Leandro Alves Rodrigues dos Santos: psicanalista, psicólogo, Doutor em Psicologia Clínica (USP) e pós doutorando em Psicologia Social (PUC), membro da Escola de Psicanálise dos Fóruns do Campo Lacaniano-Brasil e do Fórum do Campo Lacaniano-SP.

 

Eu sou freudiano, se vocês quiserem sejam lacanianos...

Jacques Lacan, em Caracas, 1980.

 

Há uma ironia presente no título dessa conferência, esse “o que é”, ao invés de “quem é”. Naturalmente isso não se deu de forma gratuita quando da elaboração desse pequeno texto que visa modestamente explicitar ao interessado as possíveis temáticas que serão abordadas e problematizadas neste evento que ocorrerá em breve.

Afinal, o “psicanalista lacaniano” é um termo que, ao menos nos últimos vinte anos, têm chamado muito a atenção das pessoas, quer seja pela originalidade nos manejos com os pacientes, com a concepção ética que atravessa um tratamento, com as sutilezas da escuta e das surpreendentes intervenções, com o rigor envolvido na formação, além de certas subversões nos padrões até então estabelecidos que, não sem razão, contribuem para a inflação de tal “personagem” [1] no imaginário das pessoas, em especial aqueles que se embrenham no “mundo-psi”, se assim podemos dizer.

Como ilustração, podemos afirmar que muitos dos que ele conviveu também nos trazem interessantes narrativas como, por exemplo, Melman (1998), quando dizia de Lacan e seu modo de lidar com o tempo da sessão:

“Com Lacan, as sessões nunca eram, só excepcionalmente, de 45 minutos. Ele às vezes pedia ao analisando para voltar uma ou duas horas mais tarde, às vezes até uma terceira ou uma quarta vez no dia. A duração de uma sessão podia estar ligada a diferentes coisas. Primeiro, ao fato de que você podia não ter nada de significativo a dizer: pode acontecer, nem sempre estamos ligados, o inconsciente às vezes dorme, descansa, está em outro lugar. Assim, Lacan podia parar a sessão porque não havia nada de especial que pudesse ser dito ali. Mas também podia parar a sessão porque o corte dava toda a sua virtude, todo o seu sentido ao que acabava de ser formulado. Havia, nele, um manejo dessa pontuação que às vezes era pertinente, às vezes podia não ser, pois ele não estava seguro de nunca se enganar. Em todo caso, era por razões teóricas muito claras que ele se servia disso.” (p. 114)

Ou ainda Patrick Valas (2009), ao relatar a respeito de sua ausência em certo número de sessões durante o começo de 1980, sem uma justificativa adequada, quando pergunta a Lacan quanto lhe deve:

“Resposta: - O senhor mesmo pode calcular. Estimei que, no fundo, a ausência era responsabilidade sobretudo minha, bastava eu ter telefonado mais cedo. Calculei: um mês = tantas sessões + tantas supervisões = 5 mil francos. - Não tenho essa quantia comigo, posso lhe deixar um cheque caução, amanhã trago em dinheiro? - Isso mesmo. Preenchi o cheque e lhe perguntei: - Ponho em nome de quem? Berros de Lacan: - Glória, Glória! Ela irrompe imediatamente. - Ensine Patrick a fazer um cheque. Ele, batendo os pés sem sair do lugar, eu, voltando-me para ela: - Em nome de quem? Sem hesitar, ela disse: - Em nome do Outro, com o O maiúsculo – e arrancou o cheque de mim nas barbas de Lacan.” (p. 131)

Até mesmo nas supervisões, Lacan mantinha-se fiel aos seus pressupostos, como podemos depreender de um breve testemunho de seu supervisionando, Adnan Houbballah (2009):

“Depois, ele perguntou o objetivo de minha visita e me explicou que começaríamos a supervisão da próxima vez. “No começo”, disse ele, “serei pedagogo. Depois, será outra coisa”. Vinte minutos após o início dessa primeira entrevista, evoquei a questão do dinheiro. Expressei-lhe claramente minha situação: “Só posso pagar 100 francos”. Lacan concorda. Soube depois que Lacan avaliava o preço de uma sessão em função de seus efeitos no tratamento. Por exemplo, na minha volta do Líbano – de onde vim arruinado, em 1975 -, só podia pagar 50 francos por minha supervisão. Ele aceitou, com a condição de voltar à antiga tarifa quando a situação se normalizasse. A supervisão durou 12 anos.” (p. 46)

Esses poucos exemplos já catalisam nossa atenção, desvelando um psicanalista que ousou fazer algo diferente no cenário psicanalítico de sua época, com as questões que o interrogavam e, desde então, influenciou significativamente gerações de analistas. Dessa forma, fica no ar uma questão, agora renovada: o que é como trabalha o psicanalista que se afina a esse modus operandi criado e desenvolvido por Lacan, a partir do que ele mesmo chamou de um “retorno a Freud”? Tentar responder a isso é a expectativa que atravessa esta conferência. Bem vindos os que compartilharem de tal curiosidade!

 

Tópicos que serão abordados:

·         O psicanalista de orientação lacaniana... De onde vêm? Como chegou até isso? Trata-se apenas de uma escolha consciente de linha teórica?

·         Como os lacanianos pensam a formação de um psicanalista? No que difere de outras abordagens teóricas, dentro e fora da Psicanálise?

·         Em termos de crescimento, desde os anos setenta, como anda a cena lacaniana no Brasil? Quais razões explicariam o “sucesso” dessa outra forma de pensar a Psicanálise? “Lacan + brasileiros” redunda em algo novo, peculiar e afinado à nossa forma de fazer laço?

·         O que está por trás das mudanças promovidas por Lacan, alguma delas bastante radicais, no manejo com o paciente, aliás, com o analisando?

·         Por que o dinheiro é tomado de forma simbólica e manejado de maneira tão cuidadosa pelo analista de orientação lacaniana?

·         Por que o tempo é tomado de forma simbólica e manejado de maneira tão cuidadosa pelo analista de orientação lacaniana?

·         Afinal, o que quer dizer a tríade imaginário-simbólico-real, que tão repetidas vezes se fazem presentes nos textos de lacanianos? E como isso afeta a direção de um tratamento analítico?

·         Final de análise é muito diferente de alta, interrupção ou abandono de um tratamento. Como os lacanianos pensam esse aspecto e por que tanto interesse nos temas que giram em torno do final de uma análise?

·         A formação é mais difícil, mais lenta, menos pedagógica? Como se aproximar do universo lacaniano, já que cursos de especialização atendem parcialmente essa expectativa dos interessados?

·         O que é uma Escola de Psicanálise? Qual a diferença em relação a uma associação de psicanalistas, ou mesmo a uma sociedade?

·         O que é um cartel? Como funciona? Há uma razão política por trás de tal proposta?

·         O que é o passe? Como funciona essa ousada ideia de Lacan? Há uma razão política por trás de tal aposta?

·         Lacanianos são comumente criticados por outras linhas,escolas e abordagens teóricas, dentro e fora da Psicanálise, não apenas no consultório, mas também em trabalhos institucionais O que encobre essa animosidade? Há uma confusão de línguas nesses momentos?

·         A análise lacaniana pode ser considerada mais efetiva, mais direta e, portanto, mais visceral? O que dizem os analisandos?

·         O que significa pensar a lógica de uma análise em termos de questões da linguagem, ao invés de algo do campo da saúde, bem estar ou algo assim?

·         O que conceitos como Outro, gozo, Real, saber, e afins dizem da singularidade de um campo teórico clinico como o lacaniano? Ainda somos freudianos?

 

Local: Universidade Metodista de São Paulo – campus Planalto (Rua Dom Jaime de Barros Câmara, 1000, Bairro Planalto – São Bernardo do Campo - SP)

Horário: das 09h30min às 12h00min

Evento público, aberto e gratuito

Inscrições: basta preencher o formulário eletrônico, clicando no link https://eventioz.com.br/e/afinal-o-que-e-e-como-trabalha-um-psicanalista-lac

Vagas limitadas



[1] Elizabeth Roudinesco (2005), em seu trabalho A lista de Lacan. Inventário das coisas desaparecidas, aborda este assunto, entre outros, mostrando que Lacan apreciava investir o dinheiro em coisas que lhe aprouvessem, características de seu modo de ser, muito afeitas ao personagem por ele constituído: “Colecionador, fetichista, apaixonado por livros – e principalmente por edições raras ou originais –, Lacan havia acumulado, ao longo de toda sua vida, objetos de todos os tipos: quadros de mestres, aquarelas,desenhos, esculturas, estatuetas arqueológicas, móveis preciosos, roupas extravagantes confeccionadas de acordo com suas orientações: casacos de pele, ternos em tecido raro, golas duras sem vira ou gola virada, nó de gravata, sapatos feitos sob medida e em couros surpreendentes, e, enfim, moedas de ouro – preferencialmente napoleões – aos quais se acrescentavam barras de ouro, repartidas em cinco contas, em cinco bancos diferentes e em cofres dispersos por Paris”.(p. 140)

terça-feira, 19 de novembro de 2013

EVENTO: CONFERÊNCIA SOBRE O AMÓDIO: AMOR E ÓDIO NA RELAÇÃO TRANSFERENCIAL COM O ANALISTA


CONFERENCIA  METODISTA  23-NOVEMBRO-2013

SOBRE O AMÓDIO: AMOR E ÓDIO NA RELAÇÃO TRANSFERENCIAL COM O ANALISTA

 

Leandro Alves Rodrigues dos Santos: psicanalista, psicólogo, Doutor em Psicologia Clínica (USP) e pós doutorando em Psicologia Social (PUC), membro da Escola de Psicanálise dos Fóruns do Campo Lacaniano-Brasil e do Fórum do Campo Lacaniano-SP.

 

Um jovem russo rico que eu havia aceitado tratar por causa de uma paixão amorosa compulsiva declarou a mim depois da primeira sessão o seguinte, a guisa de transferência: ‘- Judeu ladrão, gostaria de te pegar por trás e cagar na tua cabeça’. Com seis anos de idade, o primeiro sintoma manifestou-se em xingamentos blasfemos contra Deus: porco, cão, etc. Quando ele via na rua três montes de estrume, sentia-se mal por causa da S[anta] Trindade, e procurava ansiosamente um quarto, para destruir a evocação.

Sigmund Freud, em carta endereçada a Ferenczi, em 13/02/1910.

 

A epígrafe acima é um belo exemplo do ódio que pode surgir na relação analítica, nesse caso especifico com o paciente Serguei Pankjeff, hoje conhecido como o Homem dos Lobos, termo cunhado por seu analista, Sigmund Freud. Dizer do amor que ocorre no tratamento analítico pode parecer mais fácil como, aliás, o próprio Freud (1912) deixa claro em seu já clássico Observações sobre o amor transferencial, quando diz da frequência com que se defrontava com casos nos quais “uma paciente demonstra, mediante indicações inequívocas, ou declara abertamente, que se enamorou, como qualquer outra mulher mortal poderia fazê-lo, do médico que a está analisando. Esta situação tem seus aspectos aflitivos e cômicos, bem como os sérios.”

Ou ainda, com boa dose de honestidade científica, ao relatar seus percalços com certas pacientes histéricas que por ele se diziam apaixonadas, permanecendo ou abandonando o tratamento:

“E certo dia tive a experiência que me indicou, sob a luz mais crua, o que eu há muito tinha suspeitado. Essa experiência ocorreu com uma de minhas pacientes mais dóceis, com a qual o hipnotismo me permitira obter os resultados mais maravilhosos e com quem estava comprometido a minorar os sofrimentos, fazendo remontar seus ataques de dor a suas origens. Certa ocasião, ao despertar, lançou os braços em torno do meu pescoço. A entrada inesperada de um empregado nos livrou de uma discussão penosa, mas a partir daquela ocasião houve um entendimento tácito de que o tratamento hipnótico devia ser interrompido. Fui bastante modesto em não atribuir o fato aos meus próprios atrativos pessoais irresistíveis, e senti que então havia apreendido a natureza do misterioso elemento que se achava em ação por trás do hipnotismo”. Freud (1925[1924], grifo nosso)

 

Não é sem surpresa que Lacan, em seu Seminário XX (Mais ainda) cunha a expressão presente no título dessa conferência, muito precisa e autoexplicativa, quando afirma “que, para vocês, eu gostaria de escrever hoje como a hainamoration, uma enamoração feita de ódio (haine) e de amor, um amódio, é o relevo que a Psicanálise soube introduzir para nele escrever a zona de sua experiência. Era, de sua parte, um testemunho de boa vontade.”

Dessa forma, fica no ar uma questão crucial: como se desenrola no tratamento analítico, durante e entre as sessões, esse tal amódio? Essa conferência tem essa ambição, tentar responder a partir das experiências cotidianas da clínica...

 

Tópicos que serão abordados:

·         O amor e o ódio sempre ocorrem num tratamento analítico? Sempre da mesma forma e sempre perceptível?

·         Quando falamos de amor entre um(a) paciente e um psicanalista, isso inclui a dimensão erótica?

·         Em termos transferenciais, o amor sempre ajuda e o ódio sempre atrapalha?

·         Por qual razão imaginamos mais facilmente a atração entre paciente e analista de sexos/gêneros diferentes? E entre ambos do mesmo sexo/gênero, isso por acaso não ocorre?

·         O ciúme pode ser considerado um desdobramento desse “fenômeno” chamado amódio?

·         No caso das analisandas, a possível inveja do pênis antecede a dificuldade de se entregar a uma experiência analítica, que inclui a incerteza de um amor(transferencial)?

·         No caso dos analisandos, a possível atração homossexual/heterossexual antecede a dificuldade de se entregar a uma experiência analítica, que inclui a incerteza de um amor(transferencial)?

·         Crianças em análise também passam por isso tudo? Da mesma forma? E o amódio da mãe? Ou dos pais?

·         Casais em tratamento, ou mesmo casal de pais, também são atravessados pelo amódio?

·         Encaminhamentos frequentes ou ausência completa de encaminhamentos de analisandos dizem de algo dessa ordem?

·         O amor é sempre infantil? O amódio comprova isso no dia-a-dia da clínica?

·         E do lado do analista? Trata-se simplesmente de questões de sua análise pessoal?

·         O amor está mudando atualmente? Mudarão os analisandos? Os analistas? As análises?

 

Local: Universidade Metodista de São Paulo – campus Planalto (Rua Dom Jaime de Barros Câmara, 1000, Bairro Planalto – São Bernardo do Campo - SP)

Horário: das 09:30 às 12:00

Evento público, aberto e gratuito

Inscrições: basta preencher o formulário eletrônico, clicando no link https://eventioz.com.br/e/inscricao-conferenciasobre-o-amodio-amor-e-odio-na

Vagas limitadas

 

 

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

EVENTO: PALESTRA O DINHEIRO E O PSICANALISTA


CICLO DE PALESTRAS: O LUGAR DO PSICANALISTA

18/OUTUBRO: O DINHEIRO E O PSICANALISTA: QUESTÃO DELICADA?

Leandro Alves Rodrigues dos Santos: psicanalista, psicólogo, Doutor em Psicologia Clínica (USP) e pós doutorando em Psicologia Social (PUC), membro da Escola de Psicanálise dos Fóruns do Campo Lacaniano (EPFCL-Brasil) e do Fórum do Campo Lacaniano (FCL – SP).

 

Dando continuidade ao ciclo de palestras que visam problematizar o lugar do psicanalista e as diversas implicações daí decorrentes, teremos agora uma fala bastante específica, que trata da questão do dinheiro na clínica psicanalítica, que não apenas atravessa a relação entre o psicanalista e o paciente, mas também revela aspectos interessantes do simbolismo desse elemento inventado pelo humano e que, desde há muito, serve como medida de valor e algo mais.

Ao pensar o dinheiro do lado do analista, Freud, nesse sentido, quando abordou essa temática em seus já clássicos artigos sobre a técnica, era de fato muito direto:

“Um analista não discute que o dinheiro deve ser considerado, em primeira instância, como meio de autopreservação e de obtenção de poder, mas sustenta que, ao lado disto, poderosos fatores sexuais acham-se envolvidos no valor que lhe é atribuído. Ele pode indicar que as questões de dinheiro são tratadas pelas pessoas civilizadas da mesma maneira que as questões sexuais – com a mesma incoerência, pudor e hipocrisia. O analista, portanto, está determinado desde o principio a não concordar com esta atitude, mas em seus negócios com os pacientes, a tratar de assuntos de dinheiro com a mesma franqueza natural com que deseja educá-los nas questões relativas à vida sexual. Demonstra-lhes que ele próprio rejeitou uma falsa vergonha sobre esses assuntos, ao dizer-lhes voluntariamente o preço em que avalia seu tempo.”

Certa vez, numa carta a Ferenczi, extraída da correspondência entre ambos, deu um interessante exemplo prático de como concebia esse elemento no tratamento:

“Aproveito a ocasião para dizer que está errado em cobrar apenas 10 coroas pela sessão, quando Sadger está cobrando 20. Veja, o Sr., as 10 coroas não retiveram o rapaz com o Sr., nem as 20 o impediram de procurar S[adger]. Prometa-me corrigir-se!”

Porém, quando nos detemos sobre o lado paciente, de quem paga, há igualmente um curioso de rol de aspectos que chamam a atenção como, por exemplo, o que suscita em cada um deles após certa contabilidade imaginaria, de quanto o analista poderia amealhar. O psicanalista italiano Elvio Fachinelli, ao se debruçar nesse tema em seu “O Dinheiro do Psicanalista” alerta ironicamente:

“É quase supérfluo notar que o total de dinheiro recebido por um (clássico) analista mais ou menos corresponde, a despeito de casos excepcionais, ao montante obtido por qualquer outro profissional, como médico, advogados e jornalistas. O que magnifica os ganhos fora de proporção do analista aos olhos da maioria das pessoas, e por isso não parece razoável, quase exorbitante e sempre privilegiado, é que os ganhos derivam de um número pequeno de pacientes. Como vocês bem sabem, não estamos falando de três ou quatro sessões por ano, mas de três ou quatro sessões por semana.”

Dessa forma, não restam dúvidas de que se trata de uma temática pungente, pouco abordada e que pode render interessantíssimas reflexões.

Tópicos que serão abordados:

  • O dinheiro em sua dimensão simbólica: para quem paga e para quem recebe;
  • O psicanalista e o dinheiro: seria diferente se Freud não fosse médico ou tivesse inventado um tratamento completamente gratuito e/ou por caridade/benemerência/amizade?
  • Por que se paga? O que se paga numa análise? O que significa primeiro perder para depois ganhar?
  • O paciente e o dinheiro: sentir inveja, cobiça, contabilizar, calcular o gozo alheio, dar e reter e o que isso implica no tratamento...
  • O psicanalista e o dinheiro: ser alvo de inveja, cobiça, contabilizações, cálculos de gozo e o que isso implica no tratamento...
  • Psicanálise é só para classes abastadas? Repensando valor, preço, custos, investimento, honorários e afins...
  • Receber em dinheiro somente: serve ao tratamento ou ao analista?
  • Recibos: mero interesse de um paciente preocupado com a justiça tributária?
  •  O psicanalista é um burguês? Detém meios de produção? Explora mão de obra alheia? Aproveita-se de alguma mais valia?
  • O paciente paga para trabalhar? Quem topa isso nos dias atuais?
  • Autorizar-se a cobrar: dificuldades apenas dos jovens analistas?
  • O que estaria por trás da dificuldade de cobrar algo acima do que paga na análise pessoal ou para o supervisor?
  • Psicanalisar é uma carreira? O mito do psicanalista milionário, a ilusão do consultório cheio e o temor do consultório vazio...
  • O que Freud quis dizer com o caráter anal do dinheiro? Como isso se dá nas sessões?
  • Aumentos e reduções de valores estão restritos apenas às questões inflacionárias, que supostamente balizariam mudanças pontuais a partir de índices governamentais?
  • Qual a contribuição de Lacan nessa temática? O que nós, psicanalistas e pacientes brasileiros fizemos/fazemos com isso?

 

 

 

Horário: todas as palestras acontecem das 18:h30 às 21:h30

Investimento: os valores são referentes a cada palestra individualmente:

R$20,00 profissionais

R$10,00 estudantes

 

OBS.: É necessário realizar inscrição prévia, pois as vagas são limitadas.

Inscrições:


Telefone: 98627-1084


Website: ( http://www.poiesispsicologia.com.br/novo/agenda.asp?sub=808 ) ou clicando em CONTATO para maiores informações.

 

 Local: Rua São Vicente de Paula, 95 (Conjunto 71) – Higienópolis / São PauloPsicanálise na atualidade, daí a importância do título: “O lugar do psicanalista”, pois é justamente dele que depende a sobrevivência dessa invenção freudiana, num mundo que espera respostas rápidas e superficiais.
A primeira palestra tratará de um tema pouco abordado, sobre o inicio do consultório, acerca das dificuldades de começo da prática clínica, autorizar-se a dizer a todos que pode receber pessoas interessadas em algum tipo de ajuda, que chegam com demandas nem sempre facilmente compreensíveis.
Mais do que imprimir cartões, alugar sala, sublocar horários ou períodos, comprar tapete-poltrona-divã-relógio-lenço de papel, há também certa dose de coragem e ousadia nesse ato inaugural, aspecto que pode (e deve) ser tocado na análise pessoal e na supervisão que se inicia. Mas, ainda assim, as coisas claudicam, ocorrem surpresas, surge o inesperado e o imponderável, a sensação de fracasso ou inadequação, enfim, há muito que se pensar e dizer sobre esse tema. Não basta apenas dizer que não há um manual garantidor...

Tópicos que serão abordados:
• Psicanalisar: mera escolha profissional ou opção ética, mais nobre?
• Sou psicanalista e não psicólogo! Um olhar sobre o superego técnico psicanalítico;
• Refletindo sobre diferenças fundamentais entre psicanálise e psicoterapia, entre o psicanalista e o psicoterapeuta;
• Abandonar o furor de curar, sanar, resolver, fazer o bem, ser reconhecido: fácil para todos?
• “ Abrir” consultório: decisão pragmática, que só depende de questões financeiras?;
• Atuar solitariamente ou com colegas: projeto individual ou coletivo?
• Sobre a inveja entre os pares: inexistente devido á análise pessoal daqueles que atuam conjuntamente?
• Apoio da família: como explicar o inexplicável? Trata-se apenas de uma profissão “estranha”?
• Para além dos bancos escolares: sobre a impetuosidade em autorizar-se como “profissional” após o cômodo lugar de “ estudante”;
• A busca por fazer-se conhecer: mostrar-se não é o mesmo que exibir-se;
• Começar vai até quando?: Uma digressão sobre a condição de eterno iniciante;
• Sobre cobrar pelo trabalho: entre a facilidade de perder e a dificuldade de ganhar, fazer relativo sucesso. Ou: mais um exemplo freudiano de “arruinados pelo êxito”?

 

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

EVENTO IMPORTANTE EM SP: DIÁLOGOS DO LACANEANDO

EVENTO: PALESTRA CAMINHANTE, NÃO HÁ CAMINHO, CAMINHA! OU: SOBRE O INÍCIO DO CONSULTÓRIO

Detalhes de uma palestra proferida no Espaço Poiesis....

CICLO DE PALESTRAS: O LUGAR DO PSICANALISTA

13/SETEMBRO:  CAMINHANTE, NÃO HÁ CAMINHO, CAMINHA! OU: SOBRE O INÍCIO DO CONSULTÓRIO
Leandro Alves Rodrigues dos Santos: psicanalista, psicólogo, Doutor em Psicologia Clínica (USP) e pós doutorando em Psicologia Social (PUC), membro da Escola de Psicanálise dos Fóruns do Campo Lacaniano-Brasil e do Fórum do Campo Lacaniano - SP.

A proposta central desse ciclo de palestras é abordar temas caros à discussão da Psicanálise na atualidade, daí a importância do título: “O lugar do psicanalista”, pois é justamente dele que depende a sobrevivência dessa invenção freudiana, num mundo que espera respostas rápidas e superficiais.
A primeira palestra tratará de um tema pouco abordado, sobre o inicio do consultório, acerca das dificuldades de começo da prática clínica, autorizar-se a dizer a todos que pode receber pessoas interessadas em algum tipo de ajuda, que chegam com demandas nem sempre facilmente compreensíveis.
Mais do que imprimir cartões, alugar sala, sublocar horários ou períodos, comprar tapete-poltrona-divã-relógio-lenço de papel, há também certa dose de coragem e ousadia nesse ato inaugural, aspecto que pode (e deve) ser tocado na análise pessoal e na supervisão que se inicia. Mas, ainda assim, as coisas claudicam, ocorrem surpresas, surge o inesperado e o imponderável, a sensação de fracasso ou inadequação, enfim, há muito que se pensar e dizer sobre esse tema. Não basta apenas dizer que não há um manual garantidor...

Tópicos que serão abordados:
•             Psicanalisar: mera escolha profissional ou opção ética, mais nobre?
•             Sou psicanalista e não psicólogo! Um olhar sobre o superego técnico psicanalítico;
•             Refletindo sobre diferenças fundamentais entre psicanálise e psicoterapia, entre o psicanalista e o psicoterapeuta;
•             Abandonar o furor de curar, sanar, resolver, fazer o bem, ser reconhecido: fácil para todos?
•             “Abrir” consultório: decisão pragmática, que só depende de questões financeiras?;
•             Atuar solitariamente ou com colegas: projeto individual ou coletivo?
•             Sobre a inveja entre os pares: inexistente devido á análise pessoal daqueles que atuam conjuntamente?
•             Apoio da família: como explicar o inexplicável? Trata-se apenas de uma profissão “estranha”?
•             Para além dos bancos escolares: sobre a impetuosidade em autorizar-se como “profissional” após o cômodo lugar de “ estudante”;
•             A busca por fazer-se conhecer: mostrar-se não é o mesmo que exibir-se;
•             Começar vai até quando?: Uma digressão sobre a condição de eterno iniciante;
•             Sobre cobrar pelo trabalho: entre a facilidade de perder e a dificuldade de ganhar, fazer relativo sucesso de acordo com certo modelo. Ou: mais um exemplo freudiano de “arruinados pelo êxito”?

Horário: todas as palestras acontecem das 18:h30 às 21:h30
Investimento: os valores são referentes a cada palestra individualmente:
 R$20,00 profissionais
 R$10,00 estudantes
 OBS.: É necessário realizar inscrição prévia, as vagas são limitadas.
Inscrições: pelo e-mail espaco@poiesispsicologia.com.br ou ainda pelo próprio website (http://www.poiesispsicologia.com.br/novo/agenda.asp?sub=808) ), clicando em CONTATO.
Local: Rua São Vicente de Paula, 95 (Conjunto 71) – Higienópolis/São Paulo/SP


domingo, 25 de agosto de 2013

EVENTO: SEMINARIO (PSICANALISAR: AS VICISSITUDES DESSA PROFISSÃO IMPOSSIVEL) NO FCL-SP

AQUI VÃO OS DADOS DO SEMINÁRIO QUE COMEÇAREI EM BREVE:


PSICANALISAR: AS VICISSITUDES DESSA PROFISSÃO IMPOSSIVEL

Coordenação: Leandro Alves Rodrigues dos Santos

Horário: segundas feiras, quinzenalmente, das 14h00 às 15h30.

Início: 02 de setembro de 2013 (reunião inaugural para definições: datas, textos, etc...).

Local: sede do Fórum do Campo Lacaniano - SP


Maiores informações e inscrições: com Raquel ou Luiza no fone 3057-1743.

 

A proposta central desse seminário é abordar algumas das vicissitudes presentes no psicanalisar. Qualquer psicanalista, iniciante ou mais experiente, corroborará essa percepção, até mesmo porque passa cotidianamente por situações que dizem de certa especificidade da “profissão impossível” (como Freud a descreveu, por mais de uma vez), manifestada através das inúmeras dificuldades presentes na clínica e, além disso, fora dela também. Esses elementos foram objetos de estudos em minha tese de doutorado, defendida no IPUSP em 2011, sob a orientação de Christian Dunker, intitulada O trabalho do psicanalista: das dificuldades da prática aos riscos do narcisismo profissional (tese disponível no banco de teses da USP, pelo link http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47133/tde-31082011-152735/pt-br.php).

Nela, elenquei algumas das dificuldades que enfrenta o psicanalista, como é possível depreender a partir de um trecho do resumo que apresenta a referida tese: “Este estudo aborda o trabalho do psicanalista, tomando como vértice de investigação as dificuldades que esses profissionais atravessam na sua prática clínica cotidiana. Nesse contexto, mudanças no perfil dos pacientes, crises de demanda frente ao incremento da concorrência com psicofármacos e psicoterapias diversas, significativas exigências da formação, estabelecimento de laços com outros analistas e vicissitudes na relação com a família podem ser considerados índices do mal-estar do psicanalista frente ao ato de psicanalisar nos dias atuais”.

A partir dessa empreitada, decidi avançar e agora inaugurar esse seminário para, pouco a pouco, esmiuçar os diversos tópicos que pesquisei por anos e que, ao contrastar com minha própria prática clínica, noto que continuam se mostrando como aspectos que me parecem ser, quase sempre, pouco abordados, pouco debatidos e, talvez, subdimensionados. Nesse sentido, privilegiá-los de maneira mais detida pode ser uma saída, uma possibilidade interessante para fomentar novas discussões acerca dessa ousada decisão que é psicanalisar, com todos os riscos que aí residem.

São muitas as dificuldades que podem ser alvo de uma apreciação mais pormenorizada, mas de inicio penso em direcionar o foco para a escuta, para o que Freud chama de atenção flutuante (ou uniformemente suspensa) característica que define de maneira bastante singular o posicionamento do psicanalista frente ao discurso que o interpela. Mas, como isso se dá na prática? Já desde os primeiros contatos (por vezes no telefone) e, principalmente, nas múltiplas demandas que os que nos procuram portam através de suas queixas? Todo psicanalista escuta e todo paciente associa, sem turbulências?

Responder a essas questões nos leva a uma dedução, de que parece claro que um psicanalista trabalha com a palavra e, como comprovação, basta nos atermos ao que Freud dizia a esse respeito, em conferência[1] proferida em 1915:

As palavras, originalmente, eram mágicas e até os dias atuais conservaram muito do seu antigo poder mágico. Por meio de palavras uma pessoa pode tornar outra jubilosamente feliz ou levá-la ao desespero, por palavras o professore veicula seus conhecimentos aos alunos, por palavras o orador conquista seus ouvintes para si e influencia o julgamento e as decisões deles. Palavras suscitam afeto e são, de modo geral, o meio de mútua influência entre os homens. Assim, não depreciaremos o uso das palavras na psicoterapia, e nos agradará ouvir as palavras trocadas entre o analista e seu paciente.

Ou ainda Lacan, em dois momentos, numa entrevista[2] à revista italiana Panorama:

Sem as palavras, nada existiria. O que seria o prazer sem o intermediário da palavra? Minha opinião é que Freud, enunciando em suas primeiras obras – ‘A interpretação dos sonhos’, ‘Além do princípio do prazer’, ‘Totem e tabu’ – as leis do inconsciente, formulou, como precursor, as teorias com as quais alguns anos mais tarde Ferdinand de Saussure teria aberto a via à linguística moderna.

E também em outra entrevista[3], dessa vez concedida a Madeleine Chapsal, na qual reitera a importância desses textos como fontes de inspiração: “– Leia “A interpretação dos sonhos”, leia a “Psicopatologia da vida cotidiana”, leia “Os chistes e sua relação com o Inconsciente”, é suficiente abrir estas obras, não importa em que pagina, para encontrar isso que lhe falo.”

Afinal, por qual razão Lacan marca com tanta precisão que encontrou nesses textos de Freud preciosos indicativos do trato à palavra, das sutilezas presentes no manejo na suposta troca de palavras com o paciente (repito, por vezes já no telefone), sugerindo aos psicanalistas que neles se debruçassem para poderem alcançar os desdobramentos por ele efetuados, na intersecção com a Linguística, com a noção de significante, a fala vazia e a fala plena, enfim, como se dá isso tudo no dia-a-dia da clínica, durante os atendimentos? Nossa prática é de fato consoante com o que estudamos? Esse seminário será um lugar no qual essas e outras questões poderão ser esmiuçadas. Fica o convite, seguido de um belo exemplo de como Freud manejava essa questão da palavra...

LEANDRO ALVES RODRIGUES DOS SANTOS

 

Fragmento extraído de um texto de Nelson da Silva Júnior, publicado na revista Mente Cérebro (edição especial: Psicoterapias, volume 1), editado pela Duetto, em 2010, na cidade de São Paulo.

 

“Há um ditado italiano que diz ‘si no é vero, é bene trovatto.’ Ou seja, há algumas histórias tão boas que não importa se são ou não verdadeiras, pois, de certo modo, ilustram a verdade mais fielmente do que os fatos podem fazê-lo. Conto então uma história sobre Sigmund Freud (1856-1939) que me foi relatada por um amigo há muitos anos. Este, por seu turno, a ouviu de uma velha senhora que teria conhecido Freud quando tinha 15 anos, quando acompanhava sua tia a uma consulta com o famoso médico vienense. Entre as palavras dele e este texto haveria então não mais que três intermediários, o que não é muito se pensarmos que tal evento ocorreu, pelos meus cálculos, entre 1920 e 1925.

Meu amigo assinava o contrato de aluguel de um apartamento em São Paulo quando conheceu a senhora em questão. Ao saber que ele era analista em formação, ela se apresentou em dizer que era psicóloga, tinha estudado com o psicólogo e epistemólogo suíço Jean Piaget ‘(1896-1980) e havia conhecido Freud. Segundo contou, sua tia era uma mulher muito bonita, de uns 30 anos, que já tinha procurado vários médicos devido a dores cuja causa nenhum deles havia encontrado. Com relutância, marcou uma consulta com o Dr. Freud, controverso especialista em doenças nervosas de Viena. Ao encontrar o psicanalista, declarou com impertinência sua falta de confiança na psicanálise. ‘Se é verdade que o senhor trata só com as palavras, isso será inútil. Não acredito que meras palavras tenham poder sobre minhas dores do corpo. ’

O experiente médico teria se mantido imperturbável. Perguntou sobre o que a trazia ali, quando suas dores tinham começado, onde eram, se e quando mudavam de intensidade, quais tratamentos tinha tentado, se tinha outros incômodos e também sobre sua vida em geral. Quando pareceu satisfeito, iniciou um discurso um pouco surpreendente para ambas:

‘Vejo que a senhora, apesar dos males que a afligem, é de rara beleza. Isso não deve ter lhe escapado, uma vez que, imagino eu, não devem ser poucas as expressões de admiração e as conseqüentes investidas dos cavalheiros de nossa cidade. Sua pele é de uma textura extremamente delicada e saudável.’ Nisso se levantou, pegou um espelho que mantinha pendurado no ferrolho da janela e o aproximou da dama, oferecendo a imagem da qual falava à jovem senhora, visivelmente lisonjeada. ‘Observe! Trata-se mesmo de uma beleza pouco comum, algo oriental, com grandes olhos negros e ligeiramente oblíquos... On dirait la beauté dúne déesse égyptienne’, disse em elogio com uma espécie de apoteose ao momento sublime que aquele rosto capturava. ‘Observe, minha senhora, e não se esqueça jamais desse momento. Ele é a própria imagem do ápice da beleza feminina encarnada em um rosto simplesmente perfeito!’ Nisso, com efeito, a expressão da jovem havia se transformado. Seus olhos brilhavam, seu rubor saudável indicava uma felicidade vivaz e satisfeita. Ela estava simplesmente exuberante e deliciada com o que via.

‘Contudo’, continuou com outro tom de voz, ‘se examinarmos com cuidado, será possível notar que os primeiros sinais da velhice já se anunciam sutilmente’. ‘Veja bem’, disse, aproximando o espelho do olhar hesitante da jovem. ‘Um pequeno mas indisfarçável reticulado se irradia dos cantos das pálpebras e dos lábios...’ A angústia da moça ao confirmar aquelas marcas as sulcava um pouco mais. Dr. Freud tinha experiência em detectar os sinais mínimos de perturbação interior. Bastou que indicasse as poucas irregularidades da pele para que as lágrimas brotassem dos olhos baços da infeliz. ‘Talvez o que vê agora seja meramente fruto de sua aflição diante da verdade: que nosso melhor tempo é como um só dia de sol antes de um longo inverno da decadência contínua’. Nisso, a jovem senhora já contemplava outra imagem. Seu nariz e olhos, inchados com o choro, e a fronte, avermelhada com a tensão, de fato, pareciam confirmar a profecia do médico. Foi então que o tom de voz de novo mudou e assumiu um ar benevolente e carinhoso. ‘A senhora se recorda do rosto divino que viu a pouco nesse mesmo espelho?’ Ela acenou afirmativamente com a cabeça, incapaz de falar. ‘Pois bem, minha senhora, ela se transformou na imagem que vê agora apenas com o poder das palavras!’”

 

 



[1] FREUD, S. (1916[1915]).  Conferências introdutórias sobre Psicanálise – Parte I. Parapraxias (I/Introdução). Tradução sob a direção de Jayme Salomão. Rio de Janeiro: Imago, 1987. (Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. v. 15, p. 27-38).
[3] Entrevista disponível pelo link  http://www.clinicamente.com.ar/articulos/ev-lacan.htm