"Não, não penso. Um analista
existe pelo menos em três níveis: primeiro, no exercício de sua função na
poltrona, isto é, como praticante; em seguida, num exercício institucional,
enquanto responsável pela transmissão dos trabalhos e pela formação dos
analistas; enfim, numa obra pessoal, ou antes, numa elaboração, pois as
verdadeiras obras de psicanálise ainda podem ser contadas nos dedos das duas mãos.
O analista é reconhecido simultaneamente nestes três registros: sua produção
intelectual, seu investimento institucional e sua pratica de analista. Não é
muito possível isolar o primeiro registro, como se faria para um escritor, ou
até para um filosofo ou um pesquisador que se ilustrou nas ciências humanas. É
por essa razão que o empreendimento biográfico sobre Lacan é de fato
extremamente delicado, e talvez até contestável em seu princípio. A hipótese de
que a vida de uma pessoa se comunica com sua obra é certamente interessante; no
entanto, no caso de um analista, é com certeza o inverso que acontece, vale
dizer que é o engajamento dele numa prática, numa instituição e numa obra que
determina sua vida! Perguntem aos cônjuges dos
analistas, ele lhes explicarão que a vida dos analistas é uma vida totalmente
determinada pelo investimento que eles fazem nessa prática, um pouco
particular, é preciso bem dizer, e que não se assemelha a nenhuma outra."
In: DUMÉZIL,
C. Entrevista com Claude Dumézil:
testemunho. [1993-1994]. Quartier Lacan.
Rio de Janeiro: Companhia de Freud, 2007. Entrevista concedida a Alain
Didier-Weill, Emil Weiss e Florence Gravas.
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