"Anos mais tarde, quando minha
analise estava em fase final, cheguei para minha sessão diária e Gloria,
inconformada, me disse que o Dr., Lacan não poderia receber-me nesse dia.
Estava de cama – o que era excepcional – devido a uma forte gripe.
Volto no dia seguinte e digo a
ele:
- Vim ontem, mas o senhor não
pode me receber. Estava de cama (au lit).
- Como não?! É claro que naquela
hora eu podia recebê-la!
Não acrescentarei nada sobre a
dose de dubiedade dessa resposta e dos efeitos de vacilação que provocou em
mim. Deparava-me com uma hiância (héance)
igual à que se abrira no inicio de minha análise, mas com uma diferença: agora
eu podia perceber que meu analista, aqui homem na cama, manifestava-se também
como a-camado, o que, de fato, não o impedia de me receber.
Mas isso me mostrava ainda que,
como mulher, eu podia suportar uma certa forma de degradação. Evidentemente,
não vou desenvolver esse tema aqui. Digamos que aquilo me levou à revelação –
revelação no sentido de uma descoberta brutal – de que a face oculta de minha
demanda de neurótica era o meu fantasma. Em outros termos, o que constituíra
minha demanda de analise era a própria fossa do meu fantasma. E acrescentando
apenas que ter visto isso – a saber, o fato de Jacques Lacan me haver dirigido
até esse ponto – foi também a alavanca, o impulso essencial que me confirmou na
decisão de me tornar analista."
In: MAJOUB, L. O encontro do Outro na série de analistas. In:
GIROUD, F. et al. (orgs.) Lacan,
você conhece? São Paulo: Cultura, 1993. p. 30-35
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