"Todo mundo acredita que eu me atenho antes de mais
nada ao caráter científico de meu trabalho e que minha meta principal é o
tratamento das enfermidades mentais. É um tremendo erro que tem prevalecido
durante anos e que tenho sido incapaz de corrigir. Eu sou um cientista por
necessidade e não por vocação. Sou, na verdade, por natureza, artista [...] e
disso existe uma prova irrefutável: em todos os países onde a Psicanálise tem
penetrado, tenho sido melhor compreendido e aplicado pelos escritores e
artistas que pelos médicos. Meus livros, de fato, se parecem mais a obras de
imaginação que a tratados de patologia. [...] Eu tenho podido cumprir meu
destino por uma via indireta e realizar meu sonho: seguir sendo um homem de
letras, mesmo que sob a aparência de um médico. Em todo grande homem de ciência
está o gérmen da fantasia; mas nenhum propõe; como eu, traduzir a teorias
científicas a inspiração que a Literatura moderna oferece. Na Psicanálise, o senhor
encontrará reunidas, mesmo que transformadas em jargão científico, as três
grandes escolas literárias do século XIX: Heine, Zola e Mallarmé estão reunidos
em minha obra sob o patrocínio de meu velho mestre, Goethe."
Entrevista
concedida por Freud ao escritor italiano Giovanni Papini, em Viena, no ano de
1934.
In: ANDRADE, M. C. Para que serve a escrita? Freud
escreve(-se). Disponível em <http://www.letras.ufmg.br/poslit/08_publicacoes_txt/ale_12/ale12_mca.pdf>.
Acesso em 20 fev. 2011.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado por pensar junto...