"Comecemos com uma distinção: a variabilidade do tempo das
sessões é uma inovação importante instituída por Lacan no manejo do tratamento.
Teve o mérito de sacudir a ritualização, ou mesmo a mumificação então em curso
da técnica analítica. Mas uma coisa é o emprego do fim de uma sessão para
pontuar o discurso do sujeito; outra é o considerável encurtamento do tempo das
sessões, a ponto de deixar o paciente apenas o tempo de pronunciar algumas
palavras ou frases. Não é certo, é até pouco provável que essa técnica seja
mais apta do que outra para cingir o Real em questão do tratamento. É certo que
ela faz surgir, com toda a sua vivacidade, uma certa quantidade de objetos a, fulgurância do olhar, manifestação da
voz do analista, até a “merda” a que o paciente pode se sentir reduzido quando
a se vê expulso depois de alguns segundos. Por outro lado, tem-se uma
acentuação da dimensão imaginária do significante: o paciente irá então se
deter numa certa palavra proferida com a qual seu analista o deixou, ou até em
alguma palavra proferida por ele, para fazer dela uma chave de sua história, a
encarnação significante de sua verdade. Quantos analisandos de Lacan conheci
que brandiam essa fala ou essa palavra como um troféu? Fetichização do
significante, na verdade, mera resistência. Não que esse fenômeno não exista em
qualquer analise; só que a técnica das sessões curtas, ao fazer “a
transferência pega fogo”, a acentua."
In: SIMONNEY,
D. Lacan, grande homem. In:
DIDIER-WEILL, A.; SAFOUAN, M. (orgs.) Trabalhando com Lacan: na análise, na supervisão, nos seminários.
Rio de Janeiro, Zahar, 2009. p. 99-111.
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