"Cheguei à Rua de Lille
em alguns minutos. A sala de espera estava vazia e fui imediatamente admitido
em seu escritório. Estava esperando por uma entrevista particular. Não foi nada
disso, e sim, como de costume, convidou-me a deitar no divã. Falei do marasmo
que tomava conta de mim. A sessão se prolongou por alguns longos minutos.
“Eu imaginava”,
concluiu Lacan antes de acrescentar estas estranhas palavras: “Voltei de férias
especialmente por você. Estava inquieto com você... com a sua análise quero
dizer”.
O que significava essa
declaração? Esse convite para retomar urgentemente as sessões? Em todo caso,
tal preocupação por minha pessoa não podia permanecer isolada. Era preciso
equilibrar seu efeito por uma contramedida desagradável.
“Como estou aqui
especialmente por você, você me pagará o dobro do preço habitual, ou seja, 400
francos. Vejo-o de novo quarta-feira que vem na mesma hora”.
Lacan parecia alegre.
Ao sair, notei a presença de outro paciente na sala de espera. Se ele voltara
das férias especialmente por mim, eu dividia então esse privilégio com alguns
outros.
Na semana seguinte,
embora admitido diretamente em seu escritório, notei que a sala de espera
começava a se repovoar. Houve uma terceira sessão desse tipo, na última semana
de agosto. Dessa vez o consultório reencontrara sua afluência habitual."
In: HADDAD, G. O dia
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