"- Gostaria de marcar
uma hora com o doutor Lacan.
- No momento não
posso incomodá-lo – disse-me a mulher; era Glória. – O senhor pode telefonar às
seis?
Acomodei-me diante
da montanha de caixas e esperei.
Seis horas. Glória
de novo.
- Aguarde um minuto.
- Escute, ele pode
me receber ou não?
- Não desligue, o
doutor Lacan quer falar com o senhor...
Falar comigo? Eu só
queria que ele me recebesse. Será que os massagistas, dentistas ou alfaiates
exigem uma entrevista prévia antes mesmo de marcar hora?
Aí, de repente, a
voz monocórdica, arrastada, que desdobrava o som de cada fonema...
- Sim?
- Eu gostaria de
vê-lo.
Enfrentei um longo
silêncio.
- Por quê? - perguntou
Lacan.
A única idéia que me
ocorreu foi que eu estava com as mãos úmidas. Durante pelo menos um minuto, não
me saiu som algum da garganta.
Finalmente, me ouvi
dizer:
- Não ando nada bem."
In.: REY, P. Uma
temporada com Lacan. Tradução de Sieni Maria Campos. Rio de Janeiro: Rocco,
1990. 173 p.
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