"Quando pela primeira
vez me dirigi ao n. 5 da Rua de Lille, no outono de 1969, Lacan, com quase
setenta anos, apesar dos cabelos já inteiramente embranquecidos, nada tinha de
um ancião. Eu ficava impressionado com sua energia, a voz segura, o andar. Ele
atendia os primeiros pacientes a uma hora bem matinal – tive consultas por
volta das oito horas da manhã e não era o primeiro a esperar – e fechava o
consultório após as vinte horas. O momento do almoço era antes breve, já que a
partir das treze horas e trinta costumávamos ser muitos a nos amontoar em sua
sala de espera. Quanto às férias, à exceção do mês de agosto, de uma semana no
Natal e na Páscoa, de alguns dias em fevereiro, ele sempre estava ali, no
posto, em seu querido n.5 da Rua de Lille. Ao contrário de muitos analistas, o
ofício nunca parecia cansá-lo e com certeza o uso (e o abuso) das sessões
curtas o ajudava a agüentar. Um tal modo de vida e de funcionamento atesta que,
se ele gostava de dinheiro, este evidentemente não era sua motivação principal."
In: HADDAD,
G. O dia em que Lacan me adotou:
minha análise com Lacan. Tradução de Procópio Abreu. Rio de Janeiro: Companhia
de Freud, 2003. 303 p.
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