"O analista, mesmo que não seja
famoso, é, por obra e graça da transferência, um grande homem para seu analisando. Deve, portanto, zelar para se
manter no lugar mesmo do semblante, como objeto a, destinado a cair, e é por sua capacidade fazê-lo que, in fine, seu estilo será apreciado.
Porém não é a mesma coisa ser um grande
homem para todos e sê-lo apenas para seu paciente. O que ocorre se, à
medida que este último o “dessupõe” de seu saber, o analista, por seu lado,
inventa saber em “jato contínuo”? Se Lacan foi um suposto saber para seus pacientes, também foi, para esses mesmos
pacientes, aquele que inventava, que descobria, em suma, aquele que sabia. Lacan não foi ele mesmo vitima do
que eu chamaria sua alienação de grande
homem, que vem, grileira importuna, desalojá-lo em parte de seu lugar de
objeto a, lugar do semblante
indispensável para sustentar o discurso analítico e destinado a cair no final
do percurso? Não digo, claro, que Lacan não manejasse o semblante com a sua
sabida genialidade, mas que esse grande
homem, esse mestre nele,
parasitou – mais do que ele previu, e sobretudo, se deu conta – seu lugar de
analista."
In: SIMONNEY, D. Lacan, grande homem. In: DIDIER-WEILL, A.;
SAFOUAN, M. (orgs.) Trabalhando
com Lacan: na análise, na supervisão, nos seminários. Rio de Janeiro,
Zahar, 2009. p. 99-111.