BLOG QUE TRATA DE PSICANÁLISE

Um blog que diz de Freud, Lacan, Psicanálise, subjetividade, condição humana e outros assuntos afins, quase sempre muito interessantes...

domingo, 30 de junho de 2013

FREUD ESCRITOR.....FREUD, O HOMEM DAS VINTE MIL CARTAS (OU MAIS?)

"Como escritor de cartas meu pai era extraordinariamente prolífico e consciencioso, ocupando-se sozinho de sua volumosa correspondência e escrevendo a mão. Respondia a todas as cartas que recebia, fossem de quem fossem, e em geral sua resposta estava no correio em 24 horas. Dedicava suas noites aos escritos científicos, mas cada minuto livre entre as análises era consagrado à correspondência. A estrita observância dessa rotina durante toda sua longa vida teve como resultado alguns milhares de cartas.'

Ernest Freud, filho que compilou um livro com as cartas de amor de Freud, cartas que, nunca se saberá ao certo, pode ter ultrapassado o número de vinte mil!

In:  FREUD, S.  Correspondência de amor e outras cartas: 1873-1939. Tradução de Agenor Soares Santos. Edição preparada por Ernst L. Freud. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982. 529 p.

 

sexta-feira, 28 de junho de 2013

FREUD E A CIÊNCIA... SOBRE O MEDO, AS DÚVIDAS E O DESCONHECIDO....

"O viajante surpreendido pela noite pode cantar alto no escuro para negar seus próprios temores; mas apesar de tudo isto, não enxergará mais que um palmo adiante do nariz."

In.:  INIBIÇÃO, SINTOMA E ANSIEDADE (1926[1925])

quinta-feira, 27 de junho de 2013

EVENTO APRESENTAÇÃO DE TRABALHO NO CAFE CARTEL DO FCL-SP

Neste sábado apresentarei um trabalho na sede do Forum do Campo Lacaniano-SP, durante o Café Cartel 2013, intitulado: MAIS UM: ELEIÇÃO, ESCOLHA, IMPOSIÇÃO OU PURA FALTA DE OPÇÃO?
Quem tiver interesse, ligue para 3063-3703 e garanta a vaga....

DITO SOBRE LACAN... UM SUPERVISOR QUE FORMAVA ANALISTAS


“Basta ter feito uma supervisão prolongada com Lacan para ter uma idéia de sua concepção da formação ou da transmissão psicanalítica em geral. Ao contrário de seus outros colegas (e fiz supervisões com muitos deles), Lacan não procurava ensinar como conduzir uma analise. Deixava você agir o melhor que podia, o que significa que ele deixava a seu cargo o cuidado de se informar se você estava suficientemente preparado, ou se o acúmulo da contratransferência, das intervenções extra-analiticas – tais como as supostamente destinadas a atenuar a culpa, sem falar do mal-estar interno e no fato de falar mais de si próprio que do seu paciente etc. – levava você a concluir que era o caso de retomar sua análise. Numa palavra, para Lacan, “formar um analista” era, acima de tudo, dar todas as oportunidades para que algo da ordem do analista se realizasse. Ou, para dizer de outra forma, para que algo se atenuasse das certezas que o eu tira de sua fantasia fundamental.”
In: SAFOUAN, M.  Entrevista com Moustapha Safouan: testemunho. [1993-1994]. Quartier Lacan. Rio de Janeiro: Companhia de Freud, 2007. Entrevista concedida a Alain Didier-Weill, Emil Weiss e Florence Gravas.
 

terça-feira, 25 de junho de 2013

DITO SOBRE LACAN... UM TRABALHADOR DECIDIDO, NÃO SUBMETIDO!


"Por trás da porta, na verdade havia apenas um pequeno recinto que servia de secretaria a Glória. Foi nesse espaço confinado e sombrio que a fiel pessoa passou tantos anos da vida a datilografar seus textos, a atender e a filtrar as chamadas, a fumar também sem parar. Ao lado dessa passagem de dois ou três metros, ficava o quarto de dormir de Lacan, quase que inteiramente ocupado por uma cama grande, uma verdadeira cela de monge.
'Ele às vezes trabalhava aí até as três horas da manhã. Mais de uma vez, encontrei-o adormecido no meio das folhas de papel sobre as quais tinha trabalhado...'."

In HADDAD, G.  O dia em que Lacan me adotou: minha análise com Lacan. Tradução de Procópio Abreu. Rio de Janeiro: Companhia de Freud, 2003. 303 p.


 

CARTAS DE FREUD... GOSTARIA DE TE PEGAR POR TRÁS E CAGAR NA SUA CABEÇA...

CARTA DE FREUD ENDEREÇADA A FERENCZI EM 13/03/1910

“No geral, não sou nada mais do que uma máquina de fazer dinheiro que se esgota de tanto trabalhar nas últimas semanas. Um jovem russo rico que eu havia aceitado tratar por causa de uma paixão amorosa compulsiva declarou a mim depois da primeira sessão o seguinte, à guisa de transferência: ‘- Judeu ladrão, gostaria de te pegar por trás e cagar na tua cabeça’. Com seis anos de idade, o primeiro sintoma manifestou-se em xingamentos blasfemos contra Deus: porco, cão, etc. Quando ele via na rua três montes de estrume, sentia-se mal por causa da Santa Trindade, e procurava ansiosamente um quarto, para destruir a evocação.”

sexta-feira, 14 de junho de 2013

FREUD IMPLICA: PEQUENO HANS E O CIÚME... SOBRE A ORIGEM DESSA PAIXÃO


“Não há dificuldades na maneira para compreendermos essas duas fantasias criminosas. Elas pertenciam ao complexo de Hans de tomar posse da sua mãe. Agitava-se em sua mente algum tipo de vaga noção de que havia algo que ele poderia fazer com sua mãe por meio do que ele chegaria a tomar posse dela; para esse pensamento ilusório ele encontrou algumas representações pictóricas, que tinham em comum as qualidades de serem violentas e proibidas, e cujo conteúdo nos choca por combinar maravilhosamente com a verdade escondida. Só podemos dizer que havia fantasias simbólicas de relações sexuais, e não era um detalhe irrelevante o fato de que seu pai era representado como compartilhando das suas ações: `Eu gostaria’, ele parecia estar dizendo, `de estar fazendo algo com minha mãe, algo proibido; eu não sei o que é, mas sei que você está fazendo isso também.’ A fantasia da girafa fortaleceu a convicção que já tinha começado a se formar na minha mente, quando Hans expressou seu medo de que `o cavalo entrasse no quarto’; e achei que então tinha chegado o momento certo para informá-lo de que ele tinha medo do seu pai porque ele mesmo nutria desejos ciumentos e hostis contra este – pois era essencial postular-se bem isso com relação aos seus impulsos inconscientes. Ao lhe dizer isso, eu tinha interpretado parcialmente o seu medo de cavalos para ele: o cavalo tem que ser seu pai – a quem ele tinha boas razões internas para temer. Certos detalhes dos quais Hans mostrou que tinha medo, o preto nas bocas dos cavalos e as coisas na frente dos seus olhos (os bigodes e os óculos que são o privilégio de um homem crescido), me pareciam ter sido diretamente transpostos do seu pai para os cavalos...”

 

In:   ANÁLISE DE UMA FOBIA EM UM MENINO DE CINCO ANOS (1909)

 

quinta-feira, 13 de junho de 2013

FREUD IMPLICA: O CIUMENTO PROJETANDO A INTENÇÃO DE TRAIR

"O ciúme da segunda camada, o ciúme projetado, deriva-se, tanto nos homens quanto nas mulheres, de sua própria infidelidade concreta na vida real ou de impulsos no sentido dela que sucumbiram à repressão. É fato da experiência cotidiana que a fidelidade, especialmente aquele seu grau exigido pelo matrimônio, só se mantém em face de tentações contínuas. Qualquer pessoa que negue essas tentações em si própria sentirá, não obstante, sua pressão tão fortemente que ficará contente em utilizar um mecanismo inconsciente para mitigar sua situação. Pode obter esse alívio – e, na verdade, a absolvição de sua consciência – se projetar seus próprios impulsos à infidelidade no companheiro a quem deve fidelidade. Esse forte motivo pode então fazer uso do material perceptivo que revela os impulsos inconscientes do mesmo tipo no companheiro e o sujeito pode justificar-se com a reflexão de o outro provavelmente não ser bem melhor que ele próprio.As convenções sociais avisadamente tomaram em consideração esse estado universal de coisas, concedendo certa amplitude ao anseio de atrair da mulher casada e à sede de conquistas do homem casado, na esperança de que essa inevitável tendência à infidelidade encontrasse assim uma válvula de segurança e se tornasse inócua. A convenção estabeleceu que nenhum dos parceiros pode responsabilizar o outro por essas pequenas excursões na direção da infidelidade e elas geralmente resultam no desejo despertado pelo novo objeto encontrando satisfação em certo tipo de retorno à fidelidade ao objeto original. Uma pessoa ciumenta, contudo, não reconhece essa convenção da tolerância; não acredita existirem coisas como interrupção ou retorno, uma vez o caminho tenha sido trilhado, nem crê que um flerte possa ser uma salvaguarda contra a infidelidade real. No tratamento de uma pessoa assim, ciumenta, temos de abster-nos de discutir com ela o material em que baseia suas suspeitas; pode-se apenas visar a levá-la a encarar o assunto sob uma luz diferente."

In: ALGUNS MECANISMOS NEURÓTICOS NO CIÚME, NA PARANÓIA E NO HOMOSSEXUALISMO (1922)

terça-feira, 11 de junho de 2013

EVENTO IMPORTANTE EM SÃO PAULO DIALOGOS DO LACANEANDO

FREUD E A CIÊNCIA: UMA CRÍTICA AOS CRÍTICOS

"Se os representantes das várias ciências mentais devem estudar a psicanálise a fim de ser capazes de aplicar seus métodos e ângulos de abordagem ao seu próprio material, não lhes será suficiente parar de repente nos achados que são formulados na literatura analítica. Eles devem aprender a análise da única maneira possível – submetendo-se eles próprios a uma análise."

In:  A QUESTÃO DA ANÁLISE LEIGA (1926)

 

 

FREUD E A CIÊNCIA: DIFICULDADES DO PESQUISADOR EM VER COM CLAREZA

"É quase humilhante que, após trabalharmos por tanto tempo, ainda estejamos tendo dificuldades para compreender os fatos mais fundamentais. Mas decidimos nada simplificar e nada ocultar. Se não conseguimos ver as coisas claramente, pelo menos veremos claramente quais são as obscuridades."

In:  INIBIÇÃO, SINTOMA E ANSIEDADE (1926[1925])

sábado, 8 de junho de 2013

CARTAS DE FREUD... EXIGINDO DE FERENCZI QUE ESTE APRENDA A COBRAR DOS PACIENTES

CARTA ENDEREÇADA A FERENCZI EM 12/04/1910

“O que o Sr. Me conta na última carta ocupou minha mente em diferentes direções. (...) O jovem rapaz de Pre*burg também está insatisfeito aqui com Sadger. Ele gosta mais do Sr. pessoalmente e gostaria de voltar para o Sr., se os conhecidos dele em Budapeste não fossem molestá-lo. Ele também tem algo contra Rekawinkel. No fundo, ele não quer nada. Eu mandei dizer a ele umas grosserias através da mãe. Aproveito a ocasião para dizer que está errado em cobrar apenas 10 coroas pela sessão, quando Sadger está cobrando 20. Veja, o Sr., as 10 coroas não retiveram o rapaz com o Sr., nem as 20 o impediram de procurar Sadger. Prometa-me corrigir-se!”

quarta-feira, 5 de junho de 2013

DITO SOBRE LACAN... UM GRANDE HOMEM E O PSICANALISTA


"O analista, mesmo que não seja famoso, é, por obra e graça da transferência, um grande homem para seu analisando. Deve, portanto, zelar para se manter no lugar mesmo do semblante, como objeto a, destinado a cair, e é por sua capacidade fazê-lo que, in fine, seu estilo será apreciado. Porém não é a mesma coisa ser um grande homem para todos e sê-lo apenas para seu paciente. O que ocorre se, à medida que este último o “dessupõe” de seu saber, o analista, por seu lado, inventa saber em “jato contínuo”? Se Lacan foi um suposto saber para seus pacientes, também foi, para esses mesmos pacientes, aquele que inventava, que descobria, em suma, aquele que sabia. Lacan não foi ele mesmo vitima do que eu chamaria sua alienação de grande homem, que vem, grileira importuna, desalojá-lo em parte de seu lugar de objeto a, lugar do semblante indispensável para sustentar o discurso analítico e destinado a cair no final do percurso? Não digo, claro, que Lacan não manejasse o semblante com a sua sabida genialidade, mas que esse grande homem, esse mestre nele, parasitou – mais do que ele previu, e sobretudo, se deu conta – seu lugar de analista."
 
In:  SIMONNEY, D.  Lacan, grande homem. In: DIDIER-WEILL, A.; SAFOUAN, M. (orgs.) Trabalhando com Lacan: na análise, na supervisão, nos seminários. Rio de Janeiro, Zahar, 2009. p. 99-111.

FREUD E A CIÊNCIA... O MEIO SOCIAL E O NIVEL CULTURAL DO PACIENTE AJUDA OU ATRAPALHA?

"E os senhores compreenderão, naturalmente, o quanto as perspectivas de um tratamento são determinadas pelo milieu social do paciente e pelo nível cultural de sua família. Esse aspecto apresenta uma sóbria perspectiva para a eficiência da psicanálise como forma de terapia, não é mesmo? Ainda que sejamos capazes de explicar a grande maioria de nossos fracassos, atribuindo-os à interferência de fatores externos."

In:  CONF. INTR. SOBRE PSICANÁLISE (1916-1917)[1915-1917]

FREUD E A CIÊNCIA... ACERCA DA IMPORTÂNCIA DA ESPECULAÇÃO...

"Como sabem, a psicanálise originou-se como método de tratamento; ela o desenvolveu muito, mas não abandonou seu chão de origem e ainda está vinculada ao seu contato com os pacientes para aumentar sua profundidade e se desenvolver mais. As informações acumuladas, de que derivamos nossas teorias, não poderia ser obtida de outra maneira. As falhas que nós, na qualidade de terapeutas, encontramos, constantemente nos propõem novas tarefas, e as exigências da vida real estão efetivamente em guarda contra um exagero da especulação, da qual não podemos, afinal, prescindir em nosso trabalho."

In:   NOVAS CONF. INT. SOBRE PSICANÁLISE (1933) [34 e 35) EXPLIC...

domingo, 2 de junho de 2013

FREUD E A CIÊNCIA... A PSICANÁLISE NÃO É PARTE DA MEDICINA!

"Presumi, vale dizer, que a psicanálise não é um ramo especializado da medicina. Não vejo como é possível discutir isso. A psicanálise é uma parte da psicologia; não da psicologia médica no velho sentido, não da psicologia de processos mórbidos, mas simplesmente da psicologia. Certamente não o todo da psicologia, mas sua subestrutura e talvez mesmo todo o seu alicerce. A possibilidade de sua aplicação a finalidades médicas não nos deve desorientar. A eletricidade e a radiologia também têm sua aplicação médica, mas a ciência a qual ambas pertencem é, não obstante, a física. Nem a situação delas pode ser afetada por argumentos históricos. Toda a teoria da eletricidade teve sua origem numa observação de um preparado muscular nervoso; contudo ninguém sonharia hoje em considerá-la como parte da fisiologia."

In:  PÓS ESCRITO (1927) de  A QUESTÃO DA ANÁLISE LEIGA (1926)

 

FREUD E A CIÊNCIA... PSICANÁLISE NÃO DEVE SER UMA VISÃO DE MUNDO

"Devo confessar que não sou de modo algum parcial quanto à construção de Weltanschauungen. Tais atividades podem ser deixadas aos filósofos, que confessadamente acham impossível empreender sua viagem pela vida sem um Baedeker dessa espécie para proporcionar-lhes informações sobre todos os assuntos. Aceitemos humildemente o desprezo com que nos olham, sobranceiros, do ponto de observação de suas necessidades superiores. Mas visto que nós não podemos também abrir mão de nosso orgulho narcísico, ficaremos reconfortados com o pensamento de que tais ‘Manuais para a Vida’ ficam logo desatualizados, de que é precisamente nosso trabalho míope, tacanho e insignificante que os obriga a aparecer em novas edições, e de que até mesmo os mais atualizados deles nada mais são do que tentativas para encontrar um substituto para o antigo, útil e todo-suficiente catecismo da Igreja. Somente uma pesquisa paciente e perseverante, na qual tudo esteja subordinado à única exigência da certeza, poderá gradativamente ocasionar uma transformação. "

In:   INIBIÇÃO, SINTOMA E ANSIEDADE (1926[1925])

sábado, 1 de junho de 2013

DITO SOBRE LACAN... DEITAR NO DIVÃ É O MESMO QUE HUMILHAR-SE?


"E vou lhes dar um exemplo que me vem à memória. Uma paciente, vinda para curar um complexo de inferioridade, indignava-se porque eu a fazia deitar no divã – posição que a punha em inferioridade, dizia ela. Eu ia lhe dizer que era um protesto feminino, depois pensei que essa interpretação era inútil e fui falar com Lacan sobre meu embaraço. Ele logo me disse: “Mas por que você não lhe disse que ela estava justamente ali para falar dessa posição?” Foi uma surpresa para mim: eu me perguntava por que eu não o havia feito. Encontrei a resposta mais tarde: eu estava imbuído demais de minha posição – posição de superioridade -, por isso eu não pudera dizer isso a ela. Eis um exemplo que nos surpreende, nos toca e nos deixa diferentes daquilo que éramos antes de falar com Lacan."
 
In: SAFOUAN, M.  Entrevista com Moustapha Safouan: testemunho. [1993-1994]. Quartier Lacan. Rio de Janeiro: Companhia de Freud, 2007. Entrevista concedida a Alain Didier-Weill, Emil Weiss e Florence Gravas.