"E vou lhes dar um
exemplo que me vem à memória. Uma paciente, vinda para curar um complexo de
inferioridade, indignava-se porque eu a fazia deitar no divã – posição que a
punha em inferioridade, dizia ela. Eu ia lhe dizer que era um protesto
feminino, depois pensei que essa interpretação era inútil e fui falar com Lacan
sobre meu embaraço. Ele logo me disse: “Mas por que você não lhe disse que ela
estava justamente ali para falar dessa posição?” Foi uma surpresa para mim: eu
me perguntava por que eu não o havia feito. Encontrei a resposta mais tarde: eu
estava imbuído demais de minha posição – posição de superioridade -, por isso
eu não pudera dizer isso a ela. Eis um exemplo que nos surpreende, nos toca e
nos deixa diferentes daquilo que éramos antes de falar com Lacan."
In: SAFOUAN, M. Entrevista
com Moustapha Safouan: testemunho. [1993-1994]. Quartier Lacan. Rio de Janeiro: Companhia de Freud, 2007.
Entrevista concedida a Alain Didier-Weill, Emil Weiss e Florence Gravas.
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