BLOG QUE TRATA DE PSICANÁLISE

Um blog que diz de Freud, Lacan, Psicanálise, subjetividade, condição humana e outros assuntos afins, quase sempre muito interessantes...

segunda-feira, 22 de julho de 2013

DITO SOBRE LACAN: MANEJANDO OS DISFARCES DO CIUME NA SESSÃO...


“Um dia fui obrigado a constatar (foi bem no começo de meu tratamento) que me era muito penoso pagar o que ele pedia. O que ele cobrava não era nem abusivo nem excessivo, mas, considerando meus recursos, era uma enormidade. Por isso, em geral, não ficava chateado quando ele saía de férias, pois ele só retornava no dia 15 de setembro! Eu começava, então, no dia 1º. de setembro, a trabalhar para ter como lhe parar. Ora, num ano, ele voltou no dia 1º. de setembro, embora tivesse me dito que retornaria no dia 15, e fiquei sabendo por vários companheiros de jogo, com quem dividia a mesma sala de espera, que ele tinha voltado no dia 1º. e tinha ligado para alguns pacientes seus, mas... não para mim! Não posso nem falar do ciúme que se apossou de mim – sem motivo, evidentemente; eu então segurei as pontas até encontrar uma de minhas colegas na sala de espera, logo antes da minha sessão, que me expressou seu júbilo, pois Lacan tinha lhe telefonado já no dia 1º. de setembro! Diante disso não dava para escapar! Mal deitei, disse-lhe: ‘Veja o que acabei de saber e, digo-lhe com todas as letras, estou extremamente enciumado!” Ao que ele respondeu: “O senhor está enciumado? Bem, nesse caso, o senhor me pagará todas as sessões que deveria ter feito se eu tivesse lhe telefonado no dia 1º.’”

 

In: WINTER, J. P. “Tiradas” de Lacan? In: DIDIER-WEILL, A.; SAFOUAN, M. (orgs.) Trabalhando com Lacan: na análise, na supervisão, nos seminários. Rio de Janeiro, Zahar, 2009. p. 134-143.

quarta-feira, 17 de julho de 2013

DITO SOBRE LACAN: PENSE, ANALISTA... PENSE!


"Assim, ao convidar os analistas a ousarem autorizar-se a pensar, Lacan não esquecia a inquietude expressa por Freud quando via analistas que, ao se tornarem “obedientes a prescrições tabus”, eram forçados a esquecer o espírito criador com que, no entanto, tinham tido que conviver na experiência de analisando."
 
In: DIDIER – WEILL, A.  Introdução. In: DIDIER-WEILL, A.; WEISS E.; GRAVAS, F. (orgs.). Quartier Lacan. Rio de Janeiro: Companhia de Freud, 2007.

terça-feira, 16 de julho de 2013

DITO SOBRE LACAN: LACAN E A TRANSFERÊNCIA ERÓTICA ("ISSO NÃO É PSICANÁLISE!")


“Uma vez fiquei surpreso com uma intervenção pesada e inapelável de Lacan. Tinha em análise uma jovem que, no decorrer do trabalho, fez uma transferência erótica comigo; minha presença física dominava a cena: por exemplo, ela respirava a fumaça de meu charuto com avidez, dizendo quanto ela gostaria de ser essa fumaça que eu respirava e entrar dentro de mim. Lacan cortou a sessão e me disse: “Isso não é psicanálise”. Não esperava uma intervenção dessas, porque achava que era o efeito de uma transferência passional, mas superável. Nos tempos que se seguiram, tentei corrigir a situação e interpretar essa transferência erótica, atenuá-la e corrigir a situação, mas não adiantou; a paciente dava o tom erótico a cada um de meus gestos. Enquanto eu contava para Lacan o que acontecia na relação transferencial, Lacan se levantou e me disse: “É preciso acabar com essa analise, até logo, meu caro”. Sempre esperei conseguir fazer a paciente voltar a uma relação transferencial normal, ou seja, deserotizada. Mas a intervenção de Lacan era definitiva e inapelável. Foi só mais tarde que entendi a oportunidade daquela decisão.”

 

In: HOUBBALLAH, A.  Supervisão com Lacan. In: DIDIER-WEILL, A.; SAFOUAN, M. (orgs.) Trabalhando com Lacan: na análise, na supervisão, nos seminários. Rio de Janeiro, Zahar, 2009. p. 44-50.

 

 

quarta-feira, 3 de julho de 2013

FREUD E A CIÊNCIA... AS VERDADES QUE A PSICANÁLISE RE(DES)VELA

"Disse-lhes que a psicanálise começou como um método de tratamento; mas não quis recomendá-lo ao interesse dos senhores como método de tratamento e sim por causa das verdades que ela contém, por causa das informações que nos dá a respeito daquilo que mais interessa aos seres humanos – sua própria natureza – e por causa das conexões que ela desvenda entre as mais diversas atividades."

In:   NOVAS CONF. INT. SOBRE PSICANÁLISE (1933) [34 e 35) EXPLIC...

terça-feira, 2 de julho de 2013

DITO SOBRE LACAN...LACAN E SEU MEDO?


“Fora isso, eu não gostaria de fazer de Jacques Lacan um retrato idealizado. Seus defeitos eram manifestos. Ele adorava levar as pessoas para ali onde se deposita o eu [moi], a armadura social, o mais próximo do natural, e depois, de um golpe, quando confiavam nele, colocar-lhes uma casca de banana sob os pés, desconcertá-las. Não penso que fizesse isso “de propósito”. Não, era antes a angústia dele: os laços próximos demais davam-lhe medo e se, depois, eram rompidos, ele não suportava mais. Na verdade, para tornar possível uma relação durável com ele, era preciso ficar vigilante e representar, de maneira discreta, mas sempre, a comédia.”
In: MONTRELAY, M.  Entrevista com Michèle Montrelay: testemunho. [1993-1994]. Quartier Lacan. Rio de Janeiro: Companhia de Freud, 2007. Entrevista concedida a Alain Didier-Weill, Emil Weiss e Florence Gravas.