“Começo de março de 1980.
- Quanto lhe devo? – disse-lhe
eu. – Porque, afinal, o senhor me deixou na mão durante um mês.
Resposta:
- O senhor mesmo pode calcular.
Estimei que, no fundo, a ausência
era responsabilidade sobretudo minha, gastava eu ter telefonado mais cedo.
Calculei: um mês = tantas sessões + tantas supervisões = 5 mil francos.
- Não tenho essa quantia comigo,
posso lhe deixar um cheque caução, amanhã trago o dinheiro?
- Isso mesmo.
Preenchi o cheque e lhe
perguntei:
- Ponho em nome de quem?
Berros de Lacan:
- Glória, Glória! Ela irrompe
imediatamente.
- Ensine Patrick a fazer um
cheque.
Ele, batendo os pés sem sair do
lugar, eu, voltando-me para ela:
- Em nome de quem?
Sem hesitar, ela disse:
- Em nome do Outro, com o O
maiúsculo – e arrancou o cheque de mim nas barbas de Lacan.”
In.:
VALAS, P. Passes: o sabre e o
pincel. In: DIDIER-WEILL, A.;
SAFOUAN, M. (orgs.) Trabalhando
com Lacan: na análise, na supervisão, nos seminários.
Rio de Janeiro, Zahar, 2009. p. 122-133.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado por pensar junto...